Catherine Deneuve, uma das signatárias do manifesto publicado hoje no Le Monde.

As mulheres francesas, brancas e famosas, não estão apenas defendendo virtuais assediadores, mas naturalizando seus privilégios de grupo social, porque certamente também o exercem (os privilégios) e tomam os homens brancos e bem sucedidos como uma casta, da qual fazem parte, e que se enxerga “acima” dos novos códigos de conduta, acima de suas marcas de origem ou gênero!

Ou seja, para elas o feminismo (as lutas, a punição de homens bem sucedidos, e sua exposição em praça pública) é um “exagero” justamente porque acham que já estão em um lugar conquistado em que não mais precisam das lutas coletivas e nem de “proteção” ou cumplicidade de outras mulheres.

É muito significativo uma casta de mulheres buscar despontecializar as mulheres do mundo, justamente em um momento em que finalmente o feminismo vem se reconfigurando, se massificando e se tornando uma cultura popular e pop! Só olhar o impacto simbólico do Globo de Ouro e a campanha extraordinária das mulheres que dizem exatamente que “esse tempo” das castas e privilégios acabou! Ou está desmoronando. Por isso tanto barulho!

Sintomático que mulheres que foram símbolos de obras libertárias no cinema ou em suas vidas, Catherine Deneuve, em Belle de Jour, Danuza Leão, em Terra em Transe, símbolos de toda uma geração (anos 60, contracultura, liberdade sexual, etc.), utilizem o discurso da liberdade e da sexualidade desencanada para tentar calar as mulheres e os feminismos que eclodem pelo mundo!

Definitivamente essas mulheres perderam mobilidade subjetiva, travaram em um discurso de liberdade fraco, (liberdade para os homens, quem sempre a exerceram!!!!) parecem prisioneiras de um discurso de uma geração ou grupo social que quer o “apagamento” de suas marcas de gênero, de origem, etc. A sexualidade, o desejo, sem dúvidas, são forças desestabilizadoras e disruptivas. Mas as senhoras francesas estão confundindo a força da sexualidade (real e incrível) com sexualidade à força!

P.S. O discursos das mulheres francesas que “não precisam do feminismo” me lembrou aquele anúncio do “cartão de quem não precisa”, um anúncio pernóstico que anunciava coisas chiques e finas justamente “para quem não precisa”. Porque quem “precisava” mesmo jamais poderia ter acesso ou comprar. Ou seja, vendia apenas isso: se sentir privilegiado, sem nunca “precisar”.

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