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Quando Avatar foi lançado produziu uma comoção em torno de uma Pandora mágica, uma terra em que a conexão natureza cultura, homem-terra-animais se concretizava.

Na época escrevi um breve ensaio: Avatar: o futuro do cinema e a ecologia das imagens digitais” (Ed. Sulina) sobre essa internet verde e as tecnologias de conexão entre mundos.

O filme Pantera Negra produziu um impacto ainda maior que a fábula ecológica de Avatar, uma comoção mundial que opera contra o racismo e contra um supremacismo branco anacrônico e irracional.

Esse imaginário ancestral e digital, o rei negro T’Challa, encarnado lindamente por Chadwick Boseman, que morreu na sexta aos 43 anos de câncer, comoveu o mundo e mostra porque precisamos de heróis e super-heróis negros, porque precisamos fabular um futuro negro, uma ficção política negra que renove o imaginário.

Não apenas um filme, mas o entendimento das culturas negras como cosmovisão e mundos alternativos. É o que vemos em um movimento como o afrofuturismo que reinventa o imaginário político através da moda, dos cabelos, da estética, dos conceitos e dos corpos.

O afrofuturismo, que marca a estética do suntuoso clipe Black is King de Beyoncé, mistura ficção científica, fatos históricos, fantasia, arte da diáspora africana, realismo mágico, cosmologias africanas, para criticar, analisar, denunciar as injustiças e assimetrias, o racismo que incide sobre os negros, mas também para anunciar que essa realidade se tornou insuportável e não é uma fatalidade.

O filme Pantera Negra mostra como a cultura pop e mesmo a Marvel têm que se conectar com imaginários mais poderosos que ativam desejos de beleza e justiça, redes anti-racistas com a participação de brancos (origem do racismo), que ativem lutas do presente, que estejam conectados e respondam ao massacre e assujeitamento de homens e mulheres negros no cotidiano de um racismo estruturante global.

Wakanda é esse espaço-tempo da urgência: com os EUA e o mundo reagindo aos racismos em cada cidade, em cada micro acontecimento do cotidiano.

Wakanda é uma nação africana super desenvolvida em tecnologias e espiritualmente, é uma pura potência porque não foi espoliada e empobrecida pela colonização europeia. Essa espoliação e assujeitamento não cessaram.

Sabemos que essa potência não é impalpável e nem ficção, olhando, admirando, sendo os beneficiários de uma cultura de matriz africana que encanta e move grupos, gente, redes, economias, povos, que tem histórica, futuro e tradição.

Wakanda Forever, a hashtag que tomou as redes, não é só uma homenagem a Bosenan neste momento, é um desejo que se ativa no mundo e opera realidades e mudanças.

Não subestimem o imaginário da cultura pop e das culturas ancestrais.

Imaginário é algo que ultrapassa o indivíduo, que impregna o coletivo ou parte dele. Quando mais vivemos um individualismo exacerbado, fascistóide e racista, mais precisamos de um tribalismo, de um comunitarismo que também opere mudanças na realidade.

As imagens do filme Panteras Negras e do rei negro, Chadwick Boseman, ultrapassam o racional e entram em um vibração coletiva que instaura uma sensibilidade comum e lutas urgentes!

Os super heróis negros e as heroínas negras, essa Wakanda tecno-espiritualizada tem uma função. Com sua beleza e magia tornam a realidade do racismo algo ainda mais insuportável.

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