As cenas deploráveis de racismo e xenofobia dos adeptos do Valencia, há duas semanas, contra o avançado do Real Madrid, Vinicius Jr., parecem hoje o prenúncio de uma onda avassaladora do extremismo de direita que se precipita não só sobre a Espanha, mas por toda a Europa ocidental, depois das trágicas experiências políticas sucedidas nos Estados Unidos e no Brasil, nos últimos anos.

O comportamento deplorável das claques nas arquibancadas, as falas torpes do presidente da La Liga e, para completar, a infâmia, o desespero da imprensa especializada para justificar o injustificável – ao analisar aqueles atos inomináveis -, contaminaram o debate público com mais intolerância e preconceitos, a convergir tanto para descrição da modelagem do caráter, como para antecipar atitudes, doravante, de parte considerável dos eleitores espanhóis, que foram às urnas neste domingo, para eleger grande número de representantes do PP e do VOX.

Os dois partidos, de direita e extrema-direita, respectivamente, uniram-se e ganharam a maioria nas eleições regionais por todo o país, obrigando o primeiro ministro Pedro Sanches, numa manobra arriscada, a pedir dissolução do Parlamento e a antecipar as Legislativas, que deveriam acontecer em dezembro, para 23 de julho.

Se antes do escrutínio de domingo o cenário político da Espanha era dos mais complexos, devido às muitas questões regionais que se batem com Madrid, por interesses de ordem separatista e de independência, agora a cena parece tornar-se ainda mais complicada, exatamente pela imprevisibilidade de uma pretensa unidade, que se dá pela direita e sua extrema, de forma a tomar o poder e controlar o país pela radicalidade do discurso populista, nacionalista.

Evocam-se fantasmas de um Estado fascista, feroz, que em vez da propalada unidade, promoveu no passado de trágica memória uma desordem fratricida que banhou de sangue a Espanha.

Em 23 de julho, tomam posse nas Regionais esses novos dirigentes, maioria de direita, aliados à direita extrema, imbuídos do propósito de postergar a dissolução do Parlamento, apresentada por Sanches nesta segunda-feira (29), de forma a se organizarem para uma possível vitória ainda mais avassaladora em dezembro.

Certamente o verão da Espanha será quente, tal como a temperatura política no país, com as Legislativas, nas quais se definirão os blocos que indicarão o novo Governo, confirmando ou não as teses vitoriosas deste final de semana. A saber: algo alinhado àquelas manifestações hediondas que enxovalharam as arquibancadas do estádio de Mestalla em Valencia.

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