Fernando Coimbra desembarca no 49º Festival de Toronto com seu novo longa ‘Os Enforcados’
O diretor falou à Cine NINJA sobre o filme, que será exibido nesta sexta-feira (6) no importante evento canadense
Por Lilianna Bernartt
Não há quem goste de cinema nacional que não conheça “O Lobo Atrás da Porta”, filme de 2013, dirigido por Fernando Coimbra. O filme, que mantém seu sucesso e atualidade, foi o responsável à época de seu lançamento, por despontar o diretor para o mercado internacional, período em que dirigiu diversas e gigantescas produções, dentre elas, os seriados “Narcos” (Netflix) e “Perry Manson” (Max).
Depois de anos sem filmar no Brasil e em português, Coimbra volta em grande estilo com “Os Enforcados”, fazendo “o que” e “do jeito que gosta” para construir uma digna fábula shakespeariana do subúrbio carioca.
No filme, Valério (Irandhir Santos) e Regina (Leandra Leal) formam um casal que vivem confortavelmente na Zona Oeste do Rio de Janeiro, graças ao império do jogo do bicho construído pelo pai e pelo tio dele. Valério, que acredita ter mantido suas mãos limpas, precisa lidar com as pendências de sua família, em um meio que obedece a leis próprias. Incentivado pela ambiciosa mulher, ele tenta uma jogada que ambos consideram infalível.
“Eu queria fazer um Macbeth misturado com os Irmãos Cohen. Mas queria que a história fosse contada sob o ponto de vista de Lady Macbeth”, disse Fernando com o sorriso de quem reconhece a audácia da ideia.
Ambas as referências do diretor abordam trajetórias de escalada de ambição e poder, e a ambiguidade do ser humano que, em meio a esse jogo de ganância, acaba se perdendo em suas próprias ações. Aliás, nesse ponto, a estrutura narrativa de “Os Enforcados” se relaciona com “O Lobo Atrás da Porta”, como diz Fernando: “Não tem bem e mal. Eles mesmos são seus piores antagonistas, cruzam um limite que não deveriam e que vai levá-los à ruína”.
Referências à parte, Fernando Coimbra constrói uma boa e complexa tragédia à brasileira, com ótimas doses de humor ácido, que ressaltam os absurdos naturais do universo corrupto em que as personagens habitam.
O diretor repete a parceria de sucesso com Leandra Leal, que interpretou Rosa em “O Lobo Atrás da Porta”, e inicia uma outra parceria tão bem sucedida quanto com Irandhir Santos. Os dois, juntos, são os responsáveis pela construção e desconstrução simultânea e até mesmo concomitante, por vezes, de seus personagens.
Poderíamos pensar que “se melhorar estraga”, mas de fato, essa expressão não se aplica a ousadia e ao talento de Fernando Coimbra que, para fechar esse combo de sucesso, ainda traz o veterano ator Stepan Nercessian e uma de nossas damas da dramaturgia, a atriz Irene Ravache, que brilha em um papel surpreendente dentro dessa dinastia subversiva.
Apesar de tratar de um universo com muita brasilidade, o diretor consegue expandir a narrativa de forma universal, justamente pela construção complexa e ampla de suas personagens, características milimetricamente apuradas na atuação do elenco.
Em 2015, o roteiro passou pelo Laboratório de Sundance, sendo premiado dois anos depois com o Sundance Global Filmmaking Awards, de reconhecimento e apoio a cineastas independentes emergentes. Os trabalhos fora do Brasil e a pandemia adiaram as filmagens, mas Fernando Coimbra nunca parou de trabalhar no roteiro. “Eu tinha vontade de refletir o momento que a gente estava vivendo, que foi ficando cada vez mais louco. Eu precisava constantemente adaptá-lo para aquele sentimento de absurdo.”
Dez anos depois de sua estreia no Festival de Toronto, Fernando Coimbra retorna ao prestigiado festival canadense para o lançamento mundial de “Os Enforcados”, nesta sexta-feira, 6 de setembro. O longa-metragem será exibido na mostra Special Presentations (“Apresentações Especiais”), que reúne produções aguardadas de cineastas de primeira linha, incluindo possíveis candidatos ao Oscar. O que podemos afirmar com absoluta certeza é que, vindo de Fernando Coimbra, Toronto vai ferver com essa tragicomédia carioca/mundial.
Conversamos com o diretor sobre os bastidores, referências, processo criativo e curiosidades deste filme e também de sua trajetória, no geral. Confira a íntegra do papo abaixo: