Bancada Feminista do PSOL pede investigação do movimento Redpill ao MPF
“O ambiente virtual é também um espaço que forma a consciência das pessoas. Portanto, ou impedimos esse tipo de movimento violento, ou teremos cada vez mais mulheres sendo mortas e agredidas no dia a dia”
No Dia Internacional da Mulher, as mandatas coletivas apresentaram ação a fim de apurar a propagação de misoginia na internet
Por Stefane Amaro (@steamaroig)
Na última quarta-feira (8), a Bancada Feminista do PSOL, formada por dois mandatos coletivos – uma na Câmara de São Paulo e uma na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) –, ingressou com um pedido de instauração de inquérito para análise da disseminação de discursos de ódio contra as mulheres no ambiente digital.
A ação veio após a atriz Lívia La Gatto ter sido ameaçada pelo influenciador Thiago Schutz, conhecido na internet como “Red Pill”, ao ser parodiado por ela. À época, o coach disse que, se o conteúdo não fosse retirado do ar, seria “processo ou bala”. Thiago é apenas uma amostra de uma onda de grupos masculinistas, liderados por “coaches de masculinidade”, que tem ganhado força na internet.
Como citado pela Bancada no pedido, segundo a Safernet, organização não-governamental com foco na promoção e defesa dos Direitos Humanos na Internet no Brasil, mais de 74 mil denúncias foram encaminhadas à organização através de sua Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos no ano passado, com aumento de 251% de denúncias de misoginia em relação a 2021.
Silvia Ferraro, covereadora do mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL na Câmara Municipal de São Paulo, alerta que “o ambiente virtual é também um espaço que forma a consciência das pessoas. Portanto, ou impedimos esse tipo de movimento violento, ou teremos cada vez mais mulheres sendo mortas e agredidas no dia a dia”.
Para os Red Pills, grupo que faz referência ao filme Matrix, em que o personagem “Neo” se vê entre a pílula azul (blue pill) – que seria a manutenção da ilusão – e a pílula vermelha (red pill) – que seria acordar para a verdade –, estar “redpilizado” seria acordar para uma realidade que enxerga as mulheres como vilãs e privilegiadas da sociedade, o que desperta a necessidade de vingança sobre elas.
Apesar de ser a mais recentemente popularizada, a comunidade Red Pill não é a única a propagar esses discursos. Fazem parte desses núcleos também os Incels – sigla para involuntary celibate, traduzido livremente como celibatários involuntários, são homens, em geral jovens, que têm dificuldade de se relacionar com as mulheres (e as culpam por isso) – e o núcleo MGTOW – sigla para Men Going Their Own Way que em português significa “homens seguindo seu próprio caminho”, defendem a separação entre o masculino e o feminino, com base na crença de que o feminismo tornou as mulheres perigosas.
Paula Nunes, codeputada eleita pelo mandato coletivo Bancada Feminista do PSOL na Alesp, ressalta que “precisamos combater os discursos de ódio e misóginos em qualquer ambiente, pois são essas falas que ‘dão permissão’ para que a violência de gênero aconteça e atinja o nível alarmante atual”.
Ao Ministério Público Federal, a Bancada Feminista do PSOL também alertou quanto ao privilégio que esses discursos recebem por plataformas como Youtube, em razão de sua natureza radical, promovendo não apenas a disseminação da misoginia, mas também a monetização e lucro por parte de influenciadores desse nicho.
Com base nisso, a ação solicitou também que o órgão garanta que plataformas digitais e redes sociais adotem práticas capazes de inibir conteúdos misóginos e discursos de ódio contra as mulheres, além da investigação e responsabilização dos coaches e influenciadores envolvidos.