‘Redpillados’ deturpam Matrix para atacar mulheres em reuniões, conferências e entrevistas

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“Depois disso processo ou bala. Você escolhe”. A ameaça do coach Thiago Schutz, conhecido como Red pill, para a atriz Lívia La Gatto, gerou um pedido de medida protetiva contra o influencer por ameaça de morte.

O que poucos sabem é que o apelido escolhido pelo coach, Red pill, é uma referência amplamente utilizada em grupos de extrema direita em todo o mundo para reafirmar ‘valores da masculinidade’ e se opor ao ‘sistema que favorece as mulheres’.

Os redpillados utilizam o termo baseado na pílula em que Neo, protagonista da série Matrix (vivido por Keanu Reeves), escolhe para usar após ter que decidir entre a pílula azul e a vermelha oferecidas por Morpheus (Laurence Fishburne).

No filme, Neo escolhe a pílula vermelha para adquirir consciência sobre a realidade. A pílula azul, que lhe permitira seguir vivendo em um mundo de ilusões, é dispensada.

O termo red pill já foi utlizado por Elon Musk, Ivanka Trump e até mesmo pelo ex-ministro da Educação do Brasil, Abraham Weintraub, em discursos para extremistas.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil na gestão Bolsonaro, Ernesto Araújo, afirma ser um ‘redpillado’.

Lívia La Gatto

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La Gatto participou de uma entrevista com a jornalista Patrícia Poeta, no programa Encontro, na Rede Globo, nesta terça-feira (28). La Gatto afirmou que ficou assustada após sua paródia sobre as declarações misóginas de Schutz.

“Nosso trabalho é parodiar o que está acontecendo, mostrar nossa opinião e nos defender com humor. Minha arma sempre foi o humor. Tudo que eu tenho é isso”, disse Lívia à Patrícia Poeta durante participação no Encontro.

A humorista afirma que se sentiu intimidada, abriu um Boletim de Ocorrência (BO) e pediu medida protetiva contra o Schutz. O influencer chegou a dar 24 horas para que a atriz retirasse os comentários do ar.

“Fiquei com medo, porque obviamente acessa muitos gatilhos e fiquei chateada por me sentir intimidada”, avaliou Lívia, que demostrou não se comover com o vídeo postado por Thiago dizendo-se inofensivo após a repercussão das ameaças.

Quem é Thiago Schutz?

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Escritor, palestrante e apresentador, segundo ele próprio, o coach ficou conhecido após discursos machistas em suas palestras, e chega a cobrar R$ 2.500 por uma consultoria, como apurou o UOL.

No Podcast O Buteco, Schutz dá conselhos para ‘caras pararem de serem bonzinhos.’

“Exercício para os caras para parar de ser bonzinho: começa a falar o que você pensa, começa a falar o que você acha e não se preocupa com o que vai vir de crítica”, orienta Schutz.

Para exemplificar a “dica”, o coach conta um episódio supostamente vivido por ele:

“Eu tomando meu Campari e a mina tomando uma ‘breja’. ‘Ah, mas se eu pegar uma ‘breja’ para você, você toma comigo?’ Eu falei: ‘Ah, mano, não vou tomar agora, eu estou tomando Campari’. ‘Pô, mas você não toma comigo?’. Eu falei ‘mano, eu não tomo, entendeu?'”.

“A mulher tem muito essa coisa de tentar moldar o cara, tentar colocar o cara debaixo dela, mas isso não é na maldade, é como se fosse um teste realmente, né? Tipo assim, deixa eu ver o quanto esse cara segura a opinião dele. Quanto que ele segura o jeito que ele é?”, continua ele.

“São coisas pequenas. É o cara falar assim ‘Obrigado, não vou beber hoje’. ‘Pô, mas só você não vai beber?’. ‘Hoje não vou beber’. Acabou aí. É o cara exercitar isso aí. Ele começa a entrar um pouco mais nessa questão da rebeldia, de ser um cara mais autêntico, ser um cara mais original”, completa.

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O ‘coach Campari’, como ficou conhecido, não possui contrato com a marca de bebida e, em nota, a empresa responsável pela marca afirmou que solidariza com as mulheres que foram vítimas dos comentários misóginos.

“Campari se solidariza com todas as mulheres que foram envolvidas nesse caso de misoginia e ameaças, e rechaça veementemente toda atitude preconceituosa e violenta manifestada por este influenciador.”