Milhares de pessoas passaram a noite em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula se encontra desde a quinta-feira, para prestar solidariedade e formar um cordão de proteção para o ex-presidente. Durante a madrugada, diversas caravanas de todo o Brasil chegaram ao local.

Foto: Francisco Proner/ Farpa Fotocoletivo

Desde a tarde de sexta-feira, quando se recusou a comparecer na PF para se entregar, Lula e seus advogados tentaram negociar com os acusadores.

Por volta das 11h da manhã deste sábado (07), Lula deixou o prédio do sindicato e foi para o caminhão de som, iniciando a missa em celebração ao aniversário de Dona Marisa, que completaria 68 neste sábado.

Foto: Sheyden Afroindígena/ Mídia NINJA

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No mesmo horário, o ministro do STF Edson Fachin rejeitou o pedido de recurso feito pelos advogados de Lula, mantendo a decisão de quinta-feira de não lhe ceder Habeas Corpus.

O ato ecumênico foi celebrado por Dom Angélico Sândalo Bernardinho e também teve participação de outros líderes religiosos.

Ao longo de toda a missa, a multidão presente gritava em coro: “Não se entrega”, pedindo que Lula não se apresente à Polícia Federal.

Dilma Rousseff, Celso Amorim, Eduardo Suplicy, Manuela D’Avila, Guilherme Boulos, Fernando Haddad, dentre outros, ficaram ao lado de Lula no caminhão de som durante a celebração da missa. Artistas, como os atores Osmar Prado, Aílton Graça e a cantora paraense Aíla, também permaneceram no carro de som com o ex-presidente.

A missa foi acompanhada por músicas cantadas ao vivo por Tulipa Ruiz, Aíla, Fióti e outros. As canções foram escolhidas pelo próprio Lula, que colocou no repertório parte das favoritas de dona Marisa.

Lula iniciou sua fala saudando os líderes de movimentos e seus aliados políticos, incluindo Guilherme Boulos e Manuela D’Avila, pré-candidatos à presidência pelo PSOL e pelo PCdoB, respectivamente. Sobre Dilma Rousseff, declarou: “A mais injustiçada das mulheres que ousaram fazer política neste país” .

 

Foto: Mídia NINJA

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Ele também saudou e agradeceu o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, por ceder o espaço e dar todo o apoio para que essa mobilização esteja sendo possível: “Eu nasci aqui nesse sindicato. Quando eu cheguei aqui, esse sindicato era um barraco. E eu queria que esse pessoal soubesse que parte das conquistas da democracia brasileira a gente deve a esse sindicato dos metalúrgicos a partir de 1978”, disse.

Milhares de pessoas lotaram as ruas no entorno do sindicato. Dentre a multidão, rostos conhecidos como o de Vanderlei Luxemburgo podiam ser vistos.

Sobre a acusação, Lula declarou: “Eu acredito na Justiça e não estou acima da lei. Mas acredito numa justiça verdadeira, baseada nos autos do processo. Não posso admitir mentiras e um PowerPoint como justiça”. O ex-presidente ainda pontuou o quanto a injustiça a qual está sendo submetido tem aproximado-o cada vez mais do povo e fortalecido a sua relação com os brasileiros. Sobre seus acusadores, disse: “Mentiram no meu processo e eu digo com segurança: nenhum deles dorme com a consciência tranquila como eu durmo com a minha inocência”.

Ele também criticou a participação da grande mídia no processo do Golpe e de sua condenação. Afirmou que disse a Moro: “Você não tem condições de me absolver, porque a Globo está exigindo que você me condene e você vai me condenar”.
Fez questão de apontar o quanto se sentia grato por ver aquelas pessoas ali e por toda a solidariedade que tem recebido das pessoas: “Eu não tenho lugar no coração pra todo mundo, mas se tem uma coisa que eu aprendi é gostar da minha relação com o povo”. Ele também deixou claro que não vai parar:

“Eu não pararei, porque não sou mais um ser humano. Sou uma ideia. Uma ideia misturada com a ideia de vocês”.

A fala do ex-presidente terminou às 13h, com a confirmação de que ele se apresentará à PF: “Eu vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá, porque vou provar a minha inocência”. Ao fim, foi ovacionado pela multidão aos gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.

Ele saiu do caminhão de som sendo carregado pela multidão, de mão em mão, de volta para dentro do prédio do sindicato, enquanto os artistas presentes cantavam a música “Apesar de Você”, escrita durante a ditadura militar por Chico Buarque.

 

Foto: Francisco Proner/ Farpa Fotocoletivo