
Decisões do Congresso aprofundam privilégios e ameaçam combate à desigualdade, alerta Oxfam Brasil
Organização critica derrubada de aumento do IOF e ampliação da Câmara; medidas favorecem elite e comprometem justiça fiscal
A Oxfam Brasil manifesta preocupação com duas decisões recentes do Congresso Nacional que, segundo a organização, aprofundam a injustiça fiscal e social no país: a derrubada do decreto presidencial que aumentaria o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a aprovação, pelo Senado, da ampliação do número de deputados federais, que elevará para 531 as cadeiras na Câmara a partir de 2027.
As medidas, afirma a organização, reforçam uma lógica de austeridade seletiva que impõe sacrifícios crescentes à população mais pobre, ao mesmo tempo em que preserva – e até amplia – os privilégios da elite econômica e política brasileira. Segundo estimativas, a ampliação da Câmara deve gerar um impacto orçamentário de R$ 64 milhões por ano.
“Enquanto se recusa a taxar grandes fortunas, lucros e dividendos, o Congresso aprofunda o pacto de privilégios, em detrimento de políticas sociais essenciais”, afirma Viviana Santiago, diretora-executiva da Oxfam Brasil.
A organização critica a narrativa de que a sociedade “não aguenta mais pagar impostos”, usada para justificar o recuo no aumento do IOF. De acordo com a Oxfam Brasil, esse discurso mascara a estrutura regressiva do sistema tributário: os mais pobres pagam, proporcionalmente, mais impostos, enquanto os super-ricos seguem isentos de tributos sobre patrimônio e renda.
O alerta ocorre em meio à divulgação do mais recente estudo global da Oxfam, lançado em 25 de junho. O levantamento revela que, entre 1995 e 2022, a riqueza privada mundial cresceu oito vezes mais do que a riqueza pública – um processo de concentração que compromete a capacidade dos Estados, incluindo o Brasil, de investir em serviços públicos, enfrentar a crise climática e cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A Oxfam Brasil também critica medidas recentes como a proposta do Tribunal de Contas da União, que prevê gratificações capazes de dobrar os salários de seus servidores – isentas de impostos e com reajustes automáticos até 2029.
“O sistema tributário brasileiro está capturado por interesses corporativos e políticos. Não há democracia verdadeira com tamanha concentração de riqueza e desmonte das políticas públicas”, reforça Viviana.
A Oxfam Brasil defende uma reforma tributária progressiva, que tribute grandes fortunas, heranças e altas rendas, ampliando a capacidade do Estado de garantir educação, saúde, moradia, proteção social e justiça climática.
“O Congresso precisa decidir de que lado da história quer estar: ao lado de uma minoria privilegiada ou da maioria do povo brasileiro, que clama por justiça, equidade e dignidade”, conclui.