Arte: Ad Santos @ad.ilustra / Design Ativista

O episódio ocorrido na sexta-feira, 17/01, envolvendo o ex-secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, é um dos mais abjetos, dentre os ocorridos até agora, no governo Bolsonaro.

Contudo, conforme assinalaram várias personalidades, ele não caiu por ser nazista. Caiu apenas por ter sido explícito demais. Ele demonstrou, de modo exacerbado, o que a maioria absoluta dos membros desse governo pensa, mas tenta disfarçar – o que de fato eles têm no coração – e que os inspira na adoção de medidas governamentais.

A queda se deveu, em boa medida, à repercussão negativa do vídeo. Dentre várias outras figuras públicas, Rodrigo Maia, David Alcolumbre e Dias Toffoli rechaçaram o posicionamento de Alvim. O elemento decisivo, porém, teria sido a pressão da comunidade judaica em nosso país, por intermédio da Confederação Israelita no Brasil, com destaque para a posição do Embaixador de Israel em Brasília, Yossi Shelley, que teria pressionado Bolsonaro a “adotar medidas” em desfavor do secretário.

Declarações de cunho nazista contra negros, mulheres, índios, LGBT’s, esquerdistas, “comunistas” e “petralhas” já se acumulam aos borbotões nesse governo, advindas, no mais das vezes, do próprio presidente. Com o trágico vídeo de Alvim ficou claro que não se trata apenas de um “flerte” e sim de um comprovado fetiche com o totalitarismo, o monismo ideológico, o desrespeito para com a diversidade, o pluralismo e o multiculturalismo.

Ocorre que, dessa vez, a “minoria” vilipendiada foi aquela símbolo do Holocausto. Com judeus, não se brinca, pois, além de tudo, têm força e influência política e econômica.

A reflexão que deve ser feita é que, dentre vários outros disparates proferidos pelo presidente em sua vida pública, as falas de Bolsonaro homenageando o Cel. Brilhante Ustra, reconhecido torturador do período da Ditadura Militar (de quem o vice-presidente, Hamilton Mourão, foi ajudante de ordens) são tão graves quanto o bizarro vídeo de Alvim e foram feitas antes de sua assunção ao posto máximo da República. E, mesmo assim, ele foi eleito presidente e é justamente ele que tem escolhido tais indivíduos obscurantistas, alçando-os a cargos estratégicos no governo.

Ao final, após ser sumariamente exonerado, Alvim colocou a culpa nos esquilos. Se desculpou com a comunidade judaica alegando, cinicamente, desconhecimento da fonte. Há um ditado judaico que diz mais ou menos assim: “aquele que comete uma crueldade e se escusa alegando ignorância é duas vezes cruel”. Mas, para Alvim, há um outro provérbio judaico, que se enquadra melhor ainda do que esse anterior: “O asno se conhece pelas orelhas. O tolo, pela língua.”

Como declarou a deputada federal Margarida Salomão, Roberto Alvim pode ter deixado o cargo, mas, a natureza nazista deste governo permanece intacta. Afinal, a lógica aristotélica não falha: se você é bolsonarista e o bolsonarismo é nazista, você também é nazista. Isso se aplica a todos os demais membros do governo.

No Brasil de 2020, a cadela do nazi-fascismo não está mais no cio: ela já pariu os seus filhotinhos faz tempo.

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