Por Gustavo Becker N. Simões

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas do 8 de janeiro está chegando a seu desfecho. Em entrevista exclusiva à Mídia NINJA, um dos deputados mais atuantes no colegiado, Rogério Correia (PT-MG), fez um prognóstico do relatório da comissão e defendeu o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do alto comando do Exército envolvido na tentativa de golpe de Estado.

Correia ressaltou que as provas contra Jair Bolsonaro acumuladas durante a CPMI do 8 de janeiro vão muito além das que o tornaram inelegível até 2030. O parlamentar traçou uma linha do tempo com alguns dos possíveis crimes do ex-presidente, partindo dos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às urnas eletrônicas até os recentemente publicizados escândalos de corrupção, que também envolvem Michelle Bolsonaro e membros das Forças Armadas.

Para o petista, “o dia 7 de setembro de 2021 foi o dia em que Bolsonaro não conseguiu dar o golpe que tentou, mas não parou com isso”. Na data em destaque, o então presidente da República incentivou passeatas antidemocráticas, disse que não mais aceitaria as decisões do STF e chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha”.

“Muita coisa já se sabe sobre a corrupção de [Jair] Bolsonaro e de Michelle. Alguns dias atrás, nós ouvimos Sargento Reis, que era ajudante de ordem junto com Mauro Cid, recebia dinheiro de empresa pública e fazia o pagamento para Michelle Bolsonaro. Então, eles misturaram golpe com corrupção, um elemento explosivo, e precisavam da corrupção exatamente para tentar se precaver de uma hipótese de falha nesse processo. Creio que não há escapatória para Jair e Michelle Bolsonaro no interior do relatório da CPMI”, afirmou o deputado.

Rogério Correia também destacou a importância das investigações sobre os integrantes de altas patentes das Forças Armadas que tenham trabalhado na tentativa de golpe.

“Nós queremos ouvir o General Dutra, que era do Exército em Brasília e não deixou os acampamentos golpistas serem retirados da frente do quartel, e também o ministro da Defesa de Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira, que permitiu ao hacker [Walter Delgatti Neto] entrar no Ministério da Defesa para questionar a urna eletrônica. Isso, sem falar no General Heleno, no Braga Netto e em Lorena e Mauro Cid. Então, o andar de cima das Forças Armadas que estava na tentativa de golpe não pode sair ileso e não pode ter anistia para esses que, lá por cima, tentaram acabar com o Estado democrático no Brasil”, avaliou.

O parlamentar acrescentou que tem conversado com a relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), para que o colegiado também proponha mudanças na legislação. Ele propõe que militares só possam ingressar na política como reservistas e enfatiza a importância da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que altera o artigo 142 da Constituição, e da PL das Fake News, que, para ele, deve ter votação recomendada pelo relatório da CPMI.

“Foi pelas redes sociais, com falta absoluta de controle, que eles fizeram toda aquela convocação [do 8 de janeiro], que juntou grupos de bolsonaristas armados, setores do agronegócio e de mineração ilegal. Tem também esse empresário [Meyer Nigri] que recebeu ordem de Bolsonaro para espalhar fake news, e, ao que tudo indica, Bolsonaro era o centro do Gabinete do Ódio. De dentro do Palácio do Planalto se comandava os ataques de fake news às outras candidaturas e ao processo democrático”, comentou.

Por fim, o deputado criticou a argumentação dos integrantes bolsonaristas da CPMI do 8 de janeiro, que alegam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha interesse na invasão dos três poderes para culpar Bolsonaro.

“Eles dizem que vão fazer um relatório paralelo. Ontem eu disse que eles podem fazer quantos relatórios quiserem, porque só haverá um relatório que vai à Procuradoria Geral da República e ao STF. E nesse, com certeza, estarão indiciados os golpistas e o comandante do processo golpista, que é Jair Bolsonaro”, concluiu.

A recomendação do presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), é de que o relatório elaborado pela senadora Eliziane Gama seja lido até o dia 17 de outubro. Dessa forma, restariam nove reuniões para a oitiva de testemunhas.

Já para a relatora, o ideal seria que os depoimentos acontecessem até o dia 25 de outubro. Com o prazo perto do fim, a equipe da senadora está selecionando os depoimentos mais relevantes entre todos os requerimentos já aprovados.