Por Nathalin Gorska

Nascida no Rio de Janeiro, Jacqueline iniciou sua carreira no meio do audiovisual como atriz, e atualmente, possui em seu currículo obras como “Floribella” (2005), “Malhação – Viva a Diferença” (2017) e “Sessão de Terapia” (2012).

Apesar de suas obras focarem no entretenimento, Jaqueline é pós-graduada em Educação e Reeducação Psicomotora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e aborda, em suas obras, a temática psicológica, de forma lúdica e que desperta o interesse dos espectadores.

Atualmente, Jacqueline acaba de lançar seu novo romance para o público jovem-adulto, “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”, que fará parte de uma trilogia virtual. Em entrevista para o Cine NINJA, a autora contou um pouco mais sobre sua trajetória no audiovisual e no literário, além das diferenças de abordagem entre o público jovem e adulto. Confira:

Cine NINJA: Você já trabalhou na produção de novelas, como Floribella, e na série Sessão de Terapia. Quais são as diferenças nos processos de produção de materiais para o audiovisual e para a criação/escrita de livros?

Jacqueline Vargas: A grande diferença é que quando você fala de audiovisual, você não tem muito tempo e, além disso, você fica sujeito a muita interferência. O canal vai dar muitos palpites, a produtora e o diretor vão dar palpites. Então, às vezes, você precisa “equilibrar pratos” no meio do audiovisual. E quando você vai para a parte de criação e escrita literária, é um lugar onde você vai ter que lidar com editor, com a equipe de marketing, mas você tem um pouco mais de autonomia para escrever aquilo que realmente quer. Então, você pode até errar, mas vai fazer isso com total certeza de que estava errando de coração aberto. Agora no audiovisual você tem todo um processo, ainda mais hoje em dia, com o streaming, onde temos pesquisas e mais pesquisas sobre algoritmo, que diz que as pessoas não estão recebendo bem um tal tipo de tema e que temos que prender a pessoa nos primeiros minutos, caso contrário ela não vai voltar. Então, é uma série de coisas que você tem que fazer e às vezes você muda a sua história, a sua narrativa, não necessariamente por você querer, mas por necessidade de mercado e não por necessidade de narrativa. Já na criação e escrita de um livro, ela te dá liberdade artística.

CN: E como funciona a produção dessa adaptação específica para o audiovisual?

JV: Tem pessoas que conseguem ter uma liberdade maior para fazerem aquilo que elas querem. Mas, nos últimos anos, na esfera de inovar muito, o motivo é que eles realmente conseguiram furar a bolha e fazer muito sucesso, às vezes é um tiro pela culatra, mas às vezes dá muito certo.

CN: Ao produzir “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”, você já tinha um tema em mente (trabalhar com os frutos do cancelamento) ou a ideia surgiu após o início das pesquisas?

JV: Eu tenho uma pesquisa, que vem de uma curiosidade minha há muito tempo. Eu tenho muito interesse na memória e eu acho que a memória é algo muito grande na nossa vida, tanto do que você lembra quanto do que você não lembra. Então, na maioria das obras que eu quero escrever, o tema é a memória. Eu descobri isso e comecei a analisar e percebi que tudo fala sobre memória e a “A Arte de Cancelar a Si Mesmo” começou a aparecer justamente quando depois que fiz “Sessão de Terapia”, quando comecei esse novo campo da minha vida e eu comecei a me interessar pelo adolescente e passei a observar essa nova geração, criada no digital, e que é uma geração que nasce com tudo registrado então eu fiquei pensando que, na minha geração, você tem uma ou outra foto, um VHS e aí um irmão lembra de um jeito e você lembra de outro. E você vê muita gente que fala “ainda bem que minha adolescência foi antes do Instagram”, pois temos tudo registrado agora. E fui pensar e tem gente que nasce e o parto está registrado na rede, tudo está registrado. E você pode até apagar, mas isso não significa que vai sair da rede. De repente você pode se tornar um viral e aquilo nunca mais vai sair dali e eu fico pensando em como esses jovens não vão poder esquecer, pois qualquer coisa pode ser um gatilho de memória. A gente não sabe o que esse gatilho pode trazer: uma memória boa ou uma memória ruim. Então, foi isso que me fez começar a pensar em “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”.

CN: Sabemos que cada vez mais as redes sociais influenciam na vida não só de adultos, mas de adolescentes também. Como foi mergulhar nesse assunto e trazer ele de forma leve, com direcionamento para o público mais jovem?

JV: Um ator, quando vai fazer um personagem, ele se prepara para isso, ele vai fazer pesquisa e faz imersão do personagem, ver como ele anda, como pensa. A minha formação é em Artes Cênicas e então eu uso a mesma construção para fazer uma história. Então, do mesmo método que usaria para interpretar, eu uso para escrever. O que eu fiz foi basicamente começar a frequentar todos os aplicativos e sites e ver todos os Youtubers e Tiktokers e ler todos os livros que os jovens, a priori, estariam lendo ou se relacionando. Entrei em grupos de anônimos que fazem desabafos e conversam e conversei muito com os jovens. É sentar com o público e conversar, é fazer essa imersão. É poder falar com o público e tentar conhecê-lo, mas você não pode fazer isso de forma didática. Você precisa falar com a linguagem deles, o máximo possível. É lembrar de quando você era jovem, e é isso, a gíria muda, o que tá na moda muda, a tecnologia muda, mas os conflitos básicos, não mudam, são adaptados de geração para geração.

CN: Quais são as principais diferenças e cuidados que você precisa ter ao adaptar um tema para diferentes idades? (Por exemplo: “Sessão de Terapia” e “A Arte de Cancelar a Si Mesmo”).

JV: Tudo é uma questão de linguajar, quando você vai para um público mais velho, é o linguajar de uma pessoa mais velha, mas acho que o que não dá para fazer em nenhum dos casos é você ser didático. Ninguém gosta de receber uma aula ou lição de moral, ainda mais quando você está lendo um livro ou vendo uma série. Você está ali porque a história interessou, você quer se emocionar com a história, e justamente, o desafio, é você conseguir contar a história, mas ao mesmo tempo passar uma mensagem que junte tudo isso. É fazer com que a pessoa depois que lê depois abra uma discussão, é fazer a pessoa abrir uma reflexão depois disso. É fazer refletir, porque não é nem condenar, ou não condenar, mas é fazer pensar. É mais o fato de não ser didático, ainda mais por estarmos trabalhando com ficção.