Por Christina Gonçalves

Adriana de Faria é roteirista, diretora e produtora executiva de suas obras. Paraense, nascida e crescida em Belém, sua trajetória no cinema começou há dez anos, quando recebeu uma oportunidade de estágio em uma produtora local.

Durante o estágio, escreveu um projeto que foi selecionado no Núcleo Criativo da Ancine. Ela ressalta que isso só foi possível graças à cota de 30% destinada às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Minha carreira como roteirista começou dessa maneira: através de um edital, através da política pública”, conta.

Formada em Publicidade, em 2019 Adriana decidiu aprofundar sua formação e fez um curso na Escola Internacional de Cinema e TV, em Cuba. “Eu senti essa necessidade de buscar formação fora do meu estado, fora do Brasil, para ter um pouco mais de propriedade e, principalmente, para encontrar a minha própria voz, para encontrar a razão de fazer cinema”, completa.

A diretora compartilha como surgiu a ideia do curta Boiuna, ganhador de três prêmios no Festival de Cinema de Gramado 2025. O ponto de partida foi sua amizade com uma mulher que já foi ribeirinha. “Sempre achei interessante esses deslocamentos que as pessoas ribeirinhas fazem de ida e retorno em relação à cidade”, explica.

Ela conta que sempre observou a relação entre mãe e filha e que esse olhar para diferentes vínculos entre mulheres é algo que a interessa. A ideia do filme nasceu dessa inspiração e de uma vivência real, mas a narrativa acabou se expandindo para outros temas.

As filmagens ocorreram em Benevides, Benfica e na Ilha do Combu, na Região Metropolitana de Belém, com uma equipe majoritariamente paraense, formada por mais de 60 profissionais.

“Nas minhas equipes, eu sempre priorizo pessoas do Norte e do Nordeste. Também busco diversidade em raça, sexualidade e nível de experiência”, afirma.

Ela explica que os chefes de equipe geralmente são profissionais experientes da região, enquanto os assistentes podem estar em níveis intermediários ou ser integrantes de cineclubes e estudantes de cinema. Para Adriana, essa pluralidade contribui para a formação de mercado, ao mesmo tempo em que a presença de profissionais experientes nos cargos de liderança garante uma produção mais robusta e tecnicamente viável.

O curta dirigido por Adriana recebeu nove indicações e conquistou três vitórias: Melhor Direção (Adriana de Faria), Melhor Atriz (Naieme e Jhanyffer Santos, prêmio compartilhado) e Melhor Fotografia (Thiago Pelaes).

“Nós recebemos esses prêmios com muita satisfação, com muita alegria. Foi a coroação de um momento muito significativo na nossa carreira e, ao mesmo tempo, para o cinema paraense, porque fazia 14 anos que não levávamos um Kikito para o estado do Pará”, celebra.

Foto: Edison Vara/Ag.Pressphoto

Ela afirma que a premiação também simbolizou a importância das políticas públicas para o Pará e ressalta que Boiuna só foi viabilizado graças à Lei Paulo Gustavo. Para ela, o reconhecimento representa o retorno de um esforço coletivo do setor audiovisual paraense na luta pela consolidação dessas políticas — uma luta constante e ainda em curso.

Adriana compartilha os conselhos que gostaria de ter ouvido no início de sua trajetória. Destaca que nem sempre se trata de ter o melhor projeto ou estar mais preparada. Muitas vezes, mesmo com uma boa ideia, não se tem acesso às oportunidades, não se conhece as pessoas certas para abrir caminhos ou não se dispõe dos recursos necessários para viabilizar a realização.

Ela acrescenta que também é preciso tempo, não apenas para amadurecer o projeto, mas para amadurecer a si mesma. Esse processo, afirma, acontece a partir da prática, do tempo dedicado e das pessoas com quem se convive.

“Não é só sobre você e o que você está fazendo, mas sobre uma série de circunstâncias que envolvem fazer cinema no Norte do Brasil”, completa.

Para finalizar, Adriana deixa um recado para os novos talentos do Pará: “O que eu digo aos meus colegas cineastas paraenses é para acreditarem no potencial das nossas histórias, da nossa cultura, mas, sobretudo, que junto ao trabalho artístico sigam na luta pela política pública, porque, sem ela, a gente não caminha para a frente.”