Desde o dia 1° de Janeiro de 2019 o Brasil, com seus 209 milhões de habitantes, tem como presidente da República um personagem que não parece com nada e não lembra ninguém. Jair Bolsonaro vem sugando do Estado, às custas do povo, há quase três décadas e ao longo desse período no Congresso Nacional, de 171 propostas apresentadas, apenas duas viraram lei. Era um Zé Ninguém até virar um delírio coletivo por mudança muito bem conduzido pelos velhos donos do poder.

Fez uma campanha inteira distante do povo, desleal e com dinheiro ilícito, se negou a participar de debates, assumiu discursos de ódio infectando o clima das ruas por todo o país e não teve vergonha em apresentar propostas ocas e simplistas a problemas complexos como desemprego, segurança e educação. Atacou principalmente os povos mais vulneráveis: indígenas, quilombolas, periféricos, negras e negros, nordestinos, mulheres e LGTBs, sinalizando um governo para grandes corporações estrangeiras, igrejas e para a sempre insaciável elite brasileira.

Após se deixar levar por slogans que prometiam mudar tudo sem especificar nem como nem o quê, nosso povo começa a assistir nesses primeiros dias do ano a um desmantelamento do Estado sem precedentes.

Foram 30 anos de uma democracia capenga até essa nova fase, ainda sem nome, em que políticos debochados, sem histórico de luta, se unem como nunca a bancos, monopólios gringos e nacionais e aos reis do agronegócio para vender e detonar o que não lhes pertence.

No cargo mais alto tá esse cara altamente despreparado se fazendo de rei, quando não passa de um Bobo da Corte, rindo tolamente enquanto destrói o pouco que sobrou após dois anos do (des)governo de Michel Temer.

Sua gestão mal começou e já extinguiu ministérios fundamentais como os da Cultura e do Trabalho, por exemplo, o que deve ser encarado como um projeto declarado de sucateamento do país, uma vez que vivemos hoje o bônus demográfico da juventude com 51 milhões de jovens que já têm que lidar, a essa altura do campeonato, com filas de desemprego que somam 12 milhões de brasileiras e brasileiros.

Órgãos de promoção de direitos civis de minorias também foram destruídos, a população indígena rifada aos ruralistas (com a demarcação de terras agora sob o comando do ministério da agricultura), além de outras decisões irresponsáveis que atingem diretamente a população mais frágil do país, como as ameaças que levaram o Governo Cubano a retirar os médicos do programa Mais Médicos, que há 5 anos trabalhavam com populações carentes por todo o território nacional.

Em um país onde mais de 60 mil pessoas morrem por armas de fogo, e a grande maioria é de jovens entre 15 e 29 anos vindos das periferias; a população carcerária já ultrapassa os 700 mil e pelo menos 300 mil desses detentos se encontram em situação de trânsito injulgado, sem falar no déficit habitacional, no caos da saúde, na falta de creches e escolas etc etc. Não há outra maneira de se resolver nossas problemáticas que não seja pela criação de políticas públicas cirúrgicas.

Com a faixa no peito, o novo presidente prefere se armar para uma guerra que – ainda que ele pense que é contra seus adversários políticos que ele insiste em transformar em inimigos da pátria – é contra a própria pátria, onde a maioria é pobre, jovem, negra, mulher e precisa de terra, trabalho, educação e saúde para se desenvolver.

Respondendo ao título desse texto, esse equívoco coletivo vai nos render, sem dúvida, dias de caos, mortes, miséria e perdas de direitos. Mas desde as favelas, ocas, terras e casas que são nossas por direito ancestral ou constituído, avisamos que seguiremos lutando, exatamente como temos feito há mais de 500 anos.

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Texto publicado também no portal argentino “La Garganta Poderosa”