Com informações do g1

As paralisações ilegais realizadas por caminhoneiros bolsonaristas que não aceitam a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais geram impactos que vão além do trânsito intenso e bloqueios nas rodovias. Segundo reportagem do g1, associações de diversos setores da economia relatam problemas que vão da falta de combustível a atraso em vacinas.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), até as 6h17 desta quinta-feira (3), ainda havia o registro de 86 bloqueios em rodovias federais pelo Brasil. De acordo com a corporação, mais 58 manifestações foram desfeitas nas últimas 24h, alcançando o total de 834 manifestações desmobilizadas, desde o domingo (30), quando as manifestações começaram após o resultado das eleições.

Na noite de segunda (31), os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) formaram maioria e aceitaram a decisão de Alexandre de Moraes, presidente da Corte, que determinou que a PRF realize operações para liberar as vias ocupadas.

Supermercados

Até a última terça-feira (1°), mais de 70% dos supermercados em oito unidades da federação já enfrentavam problemas de abastecimento por conta da impossibilidade de deslocamento causada pelas manifestações, informou a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal, são os estados mais afetados pelos problemas de escoamento dos produtos de supermercados, com destaque para as frutas, legumes, verduras e carnes.

A Abras informou, também, que na tarde desta terça os supermercados registraram um aumento no movimento de consumidores, que temem pelo desabastecimento. Em contrapartida, a Associação pontua que as lojas têm o estoque necessário para atender a demanda por “mercearia seca” por, em média, cinco a oito dias. O maior problema são os alimentos perecíveis.

Viagens canceladas

Além dos deslocamentos por ônibus que estão impossibilitados pelas paralisações, viagens por avião também estão sendo afetadas pelos bloqueios, com voos cancelados.

No Aeroporto Internacional de São Paulo em Guarulhos, o maior do país, pelo menos 25 voos foram cancelados até a noite desta terça, segundo informações da GRU Airport, concessionária responsável pelo funcionamento do local.

Além da falta de combustível, a ABEAR destaca que os serviços estão sendo afetados pela dificuldade de chegada de profissionais, tripulantes e passageiros aos aeroportos. Tais dificuldades podem prejudicar, até mesmo, atividades essenciais, como o transporte gratuito para o transplante de órgãos.

Ovos para vacina

Uma carga com cerca de 520 mil ovos que são utilizados pelo Instituto Butantan para a fabricação de vacinas contra o vírus H3N também ficou presa nos bloqueios. A situação ocorreu nesta terça no interior de São Paulo. O caminhão que transportava a carga saiu de São Carlos e ficou parado por horas nas proximidades de Jundiaí.

A carga deveria ter sido entregue ao instituto por volta das 6h da manhã de ontem, mas o caminhão só conseguiu seguir viagem ao meio dia, quando a Secretaria de Segurança Pública foi acionada. Os ovos só foram entregues depois das 14h, um atraso de mais de oito horas.

O Butantan havia informado que a carga só poderia ser aproveitada se fosse entregue até o fim da manhã de ontem. Depois de entregues, o instituto disse que os ovos serão avaliados por técnicos antes de seguir para a produção, mas ainda não há novas informações.

Caso os ovos não possam ser aproveitados, cerca de 1,5 milhão de doses da vacina contra Influenza podem ser atrasadas.

Produção industrial

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou para o “iminente risco de desabastecimento e falta de combustíveis, caso as rodovias não sejam rapidamente desbloqueadas”. Afirma ainda que as indústrias já sentem os impactos no escoamento da produção e relatam casos de impossibilidade do deslocamento de trabalhadores.

“As paralisações também já atingem o transporte de cargas essenciais, como equipamentos e insumos para hospitais, bem como matérias-primas básicas para as atividades industriais”, informou a CNI, que se declarou “veementemente contrária a qualquer manifestação antidemocrática que prejudique o país e sua população.”

Shows cancelados

Até o entretenimento foi afetado. Cantores sertanejos que declararam apoio a Bolsonaro durante o período pré-eleitoral tiveram de cancelar shows em decorrência dos bloqueios ilegais.

Gustavo Lima se apresentaria em Canaã dos Carajás (PA) e anunciou o cancelamento do show na noite de terça. Ele não informou se a apresentação será remarcada.

“A decisão foi tomada em virtude das paralisações que ocorrem nas rodovias que dão acesso à cidade e que impedem a chegada ao local em tempo hábil”, disse o cantor em suas redes sociais.

A produtora X9 Promoções organizava um show de Leonardo em Criciúma (SC) que aconteceria na noite de terça, mas também precisou cancelar a apresentação, afirmando que “devido à questão da paralisação dos caminhoneiros, ficou impossibilitada a logística do show”. O evento foi remarcado para o dia 1° de dezembro.

A dupla George Henrique e Rodrigo também se apresentaria em Santa Catarina, mas na cidade de Balneário Camboriú. Em imagens divulgadas nas redes sociais, eles mostraram o ônibus da equipe preso em um bloqueio ilegal na estrada em Embu das Artes (SP), revelando que cancelaria o show – ainda sem nova data.

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