Mal começou o ano e os integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) já iniciaram sua guerra lacradora contra os mandatos coletivos eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo. O vereador eleito, Rubinho Nunes, anunciou em suas redes que irá “derrubar” esse tipo de mandato. Mas por que o MBL teme tanto esses mandatos?

Na Câmara Municipal de São Paulo, foram eleitos os mandatos coletivos da Bancada Feminista do PSOL (com 46 267 votos, a sétima candidatura mais votada da cidade e o mandato coletivo mais votado do país) e o Quilombo Periférico, também do PSOL, (com 22 742 votos, reunindo ativistas das periferias e movimentos negros da cidade). O número de candidaturas coletivas no Brasil saltou de três para 257 nos últimos oito anos. Aproximadamente 20 foram eleitas no pleito municipal de 2020.

O primeiro aspecto dos mandatos coletivos que incomoda o MBL é exatamente sua forma renovada de encarar a política institucional. Sim, o MBL que surgiu fazendo discursos contra os políticos tradicionais e navegou nas águas tortuosas do senso comum antipolítica, demonstrou-se, em pouquíssimo tempo, ser o baluarte da defesa do que existe de mais velho, atrasado e conservador no país.

Em momentos decisivos da política brasileira, o MBL demonstrou o seu lado: apoiou Eduardo Cunha (hoje vivendo em prisão domiciliar), Michel Temer e Jair Bolsonaro, para ficar em poucos exemplos. Entrou na vida institucional e têm eleito jovens de idade defensores de ideias que remetem ao período da Casa Grande.

Os mandatos coletivos eleitos com uma plataforma política comum, com funcionamento realmente democrático e com um programa de esquerda, podem representar uma fissura na estrutura parlamentar elitista, historicamente consolidada no Brasil: a lógica do parlamentar super-herói (homem, branco, heterossexual e rico), que distribui favores à população (o sempre reciclado coronelismo) e que perpetua uma ideia de que a política é inalcançável às trabalhadoras e trabalhadores, negras e negros, mulheres, LGBTQIA+.

A presença das cinco covereadoras da Bancada Feminista do PSOL e das seis lideranças covereadoras do Quilombo Periférico no parlamento paulistano, por si só, já incomoda os representantes das políticas elitistas. Mas as notícias ruins para o MBL é que além de serem do Partido Socialismo e Liberdade, esses mandatos coletivos estão articulados com muitos movimentos, lideranças e comunidades. Ou seja, são muito mais coletivos do que se pode ver apressadamente.

Aqui entra um segundo aspecto que incomoda tanto a extrema direita no Brasil. Os mandatos coletivos da esquerda socialista, como são o da Bancada Feminista do PSOL e o Quilombo Periférico, têm potencial de aprofundar a democracia e o acesso ao poder institucional. São mandatos cujas covereadoras e covereadores têm raízes na luta em defesa dos direitos do povo. Não foram inventados por robôs de internet, não nasceram em berços de ouro e nem foram formados nos espaços glamorosos da elite paulista e paulistana.

O medo do MBL é, portanto, o medo da população organizada em luta, das mulheres feministas, das negras e negros e das LGBTQIA+ que lutam por seus direitos. O medo do MBL é da democracia formada pelo povo como ele é: muito mais diverso do que se vê majoritariamente nos parlamentos brasileiros.

Poupem-se, pois estamos só começando.

Bancada Feminista do PSOL – Silvia Ferraro, Carolina Iara, Paula Nunes, Dafne Sena e Natália Chaves

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