Por Mauro Utida

A pouco mais de um mês para o final do mandato de Jair Bolsonaro (PL) à frente da Presidência da República, o número de queimadas dispararam na Amazônia brasileira, enquanto o chefe do Executivo se retirou do centro das decisões políticas após a derrota nas eleições para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Neste fim de mandato, há uma corrida de criminosos ambientais para derrubar a floresta, aproveitando o fato de que ainda têm um parceiro sentado na cadeira da presidência da República”, afirma Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas dispararam de forma descontrolada em diversos estados da Amazônia, logo após o segundo turno das eleições presidenciais.

O pior caso é o de Rondônia, onde foram registrados 1.526 focos de queimadas entre os dias 1 e 10 de novembro. O valor é cerca de 10 vezes mais alto que a média registrada nesse período entre 2012 e 2021 (149 focos).

As queimadas também dispararam nos estados do Acre, Amazonas e Mato Grosso, enquanto costumam reduzir neste período de início das chuvas. Em todos eles, os valores estão muito acima das médias registradas entre 2012 e 2021 para os primeiros 10 dias de novembro.

No Acre, embora o número de focos seja menor que em Rondônia, o aumento é ainda mais assustador, com quase 22 vezes mais focos que a média (882 focos contra 40). No Mato Grosso, foram 858 focos, mais de 3 vezes acima da média (226 focos). No Amazonas, foram 758 focos, número quase quatro vezes maior que a média (197 focos).

“O aumento dos alertas de desmatamento e queimadas era esperado – ainda assim, os números dos primeiros 10 dias de novembro são assustadores e mostra claramente uma corrida desenfreada pela devastação em alguns estados. É urgente que os sistemas de proteção da floresta sejam restabelecidos. O fogo é um dos principais fatores de degradação no bioma Amazônia, além de ser responsável por milhares de problemas respiratórios e internações a cada ano”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil.

A Amazônia brasileira corresponde a 59% do território brasileiro, distribuída em nove estados. Mais da metade da área destruída estava concentrada no estado do Pará (norte), com 435 km² derrubados.

Recordes de desmatamento

A Amazônia continua acumulando seguidos recordes de desmatamento na série histórica iniciada em 2015 com o sistema Deter-B, do Inpe. O acumulado de alertas entre agosto e outubro atingiu 4.020 km², ante 2.779 km² em igual período de 2021, aumento de 44,65%.

 

 

O mês de outubro atingiu 904 km², uma alta de 3% em relação ao mesmo mês de 2021 e novo recorde para o período.

O desmate chegou a 13.038 km² em 2021, maior taxa em 15 anos, que representa alta de 73% em relação a 2018. O total de focos de queimadas na Amazônia de janeiro a outubro já é 49,5% maior do que no ano anterior. Foram 101.215 de janeiro a outubro de 2022, ante 67.715 nos mesmos meses de 2021.

Como a taxa de desmatamento na Amazônia é medida sempre de agosto de um ano a julho do ano seguinte, o estrago será herdado pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que terá o desafio de reduzir a taxa em seu mandato.

Leia mais:

https://midianinja.org/news/inpe-alerta-para-novo-recorde-de-desmatamento-na-amazonia-em-outubro/

https://midianinja.org/news/cha-de-sumico-bolsonaro-nao-participa-da-cop-e-nem-do-g20/

https://midianinja.org/news/encontro-na-cop27-lula-ouve-sociedade-civil-para-pensar-reconstrucao-do-brasil/