
Alice Carvalho revela os bastidores e o desafio de interpretar Fátima em ‘O Agente Secreto’
Atriz relata gravações intensas, contracenas com Wagner Moura e a estreia do filme em Cannes
Por Tamara Louise
Alice Carvalho estava imersa nas gravações intensas da novela Renascer, filmando de segunda a sábado no Rio de Janeiro, quando recebeu uma ligação que mudaria sua rotina. “Eu estava mergulhada no processo da novela quando recebi a ligação da produtora executiva Emilie Lesclaux. Ela me explicou que houve uma mudança nas filmagens e que precisavam escalar a personagem com urgência”, recorda. Três dias depois, a atriz já desembarcava em Recife para interpretar a professora Fátima. No voo, entre a ansiedade e a gratidão, ela leu as primeiras cenas e tentava controlar o nervosismo. “Acho que essa pressa trouxe para a Fátima uma força bonita, que era o próprio desejo de realizar o desejo. Ela já chega com a intensidade de quem praticamente desce de um voo e vai para a cena.”
Ao se deparar com a professora universitária Fátima, Alice encontrou uma mulher marcada pela firmeza e pela elegância. “Ela é pesquisadora, companheira de Marcelo, mãe de seu filho… e daquela época em que a mulher ainda era menos vista como intelectual”, explica. A atriz conta que se guiou por essa presença sólida e pela forma como a personagem era retratada na narrativa. “Me movi por essa força elegante que aparecia não só nas palavras ditas por ela, mas nas escritas por Kleber, na boca de quem a admira.”
O pouco tempo para se preparar acabou se transformando em um aprendizado essencial para Alice. “Foi tudo muito rápido, mas isso também abriu espaço para descobertas que são fundamentais a qualquer atriz”, reflete. “Descobri que até a pressa pode ser uma aliada quando a gente se entrega ao instante sem medo, confiando de olhos fechados nos encontros.”
A atriz também revela como foi contracenar com Wagner Moura e trabalhar com Kleber Mendonça Filho. “Foi um privilégio imenso. Wagner é um artista que admiro desde pequena e, estar diante dele, dividindo cena, foi mais que uma honra. Ele é um sábio e é um menino, alguém que hoje me espelho quando fico insegura”, conta. Sobre Kleber, Alice destaca o equilíbrio entre rigor e sensibilidade: “Ele tem um olhar que é ao mesmo tempo rigoroso e profundamente humano, apaixonado. Ele te dá liberdade, mas também sabe exatamente onde quer chegar.”
O ápice dessa experiência aconteceu em Cannes, onde O Agente Secreto foi recebido com longos aplausos que duraram 13 minutos. “Foi arrebatador. Estar ali com um filme tão político, tão brasileiro, tão nordestino e tão cosmopolita foi algo que me atravessou profundamente”, relembra Alice. “Aqueles minutos de aplausos foram como uma onda que não parava de vir, e eu só conseguia pensar na minha terra, na minha gente, em todos que sonharam antes de mim. Foi histórico não só para nós que estávamos lá, mas para o cinema brasileiro como um todo.”

Alice acredita que O Agente Secreto tem uma força que transcende o tempo e dialoga diretamente com o presente do Brasil. “O filme fala do Brasil de 1977, mas reverbera até hoje porque as violências, os silenciamentos e a exploração continuam atravessando nossa história”, explica. “É um filme que nos obriga a encarar a memória e, ao mesmo tempo, a projetar um futuro livre dessas marafundas.”
A escolha de O Agente Secreto para representar o Brasil no Oscar 2026 emocionou Alice. “Receber essa escolha da Academia Brasileira de Cinema é uma validação da potência do cinema feito no Nordeste e da relevância do trabalho do Kleber Mendonça Filho. Esse filme é profundamente especial. Mesmo se passando em outra época, ele conversa diretamente com o Brasil recente, trazendo reflexões sobre memória, família e a importância de não esquecermos a nossa história”, afirma a atriz.
Para o público, Alice antecipa uma entrega coletiva rara e intensa. “Acho que o público pode esperar uma declaração de amor muito lúcida ao país em que vivemos, feita por um diretor absolutamente dedicado a falar sobre nós — para nós e para o mundo inteiro. E um elenco tão inteiro, tão entregue, tão cheio de fome, que vai fazer com que a plateia declare novamente amor profundo e lúcido à classe artística deste país”, conclui.
O filme chega aos cinemas no dia 6 de novembro, prometendo uma experiência intensa e marcante para todos que acompanham o cinema nacional.