A participação feminina nos Jogos Olímpicos de 1900 a 2024
Apesar dos esforços de uma sociedade moldada no patriarcado, a equidade de gênero foi alcançada, 124 anos depois, no principal evento esportivo do mundo.
Por Mariana Walsh
Às mulheres, sempre foi reservado um lugar de submissão na sociedade. Foi só depois de muita luta que elas conquistaram espaços além do doméstico e passaram a exercer papéis como trabalhadoras e cidadãs. No meio desportivo, isso não foi diferente. Desde as disputas do Olimpo na Grécia Antiga até os Jogos Olímpicos da Era Moderna, a participação feminina na busca pelo lugar mais alto do pódio nunca foi vista com bons olhos. Em 1900, elas conquistaram o direito de participar do principal evento esportivo do mundo, mas foi só 124 anos depois que a equidade de gênero foi alcançada.
Quando Pierre de Coubertin, um nobre francês, decidiu criar os Jogos Olímpicos da Era Moderna, a participação feminina não fazia parte da proposta. Assim, a primeira edição do torneio, que aconteceu em 1896, teve apenas homens na disputa. Apesar de seus esforços para mantê-las longe das competições, Stamata Revithi, uma jovem grega, competiu de forma extra-oficial na maratona. Ela completou o trajeto de 42 km no dia seguinte ao da competição, e foi apelidada de Melpomene, a musa grega da tragédia, pelos organizadores. Revithi foi a primeira a enfrentar as barreiras da sociedade patriarcal em busca da inclusão no esporte olímpico.
Coubertin acreditava que uma Olimpíada com mulheres seria “impraticável, desinteressante, inestética e imprópria” assim como muitos na época. Entretanto, àquela altura, as mulheres já contribuiam para a economia de seus países, e estavam saindo do papel de passividade que comumente era associado a elas. A participação das mulheres no evento seria apenas uma questão de tempo. E assim foi. Em 1900, quatro anos após a primeira edição do torneio, elas fizeram sua estreia olímpica . Vinte e duas mulheres se tornaram as primeiras a disputarem os Jogos Olímpicos, que naquele ano ocorreu em Paris. Elas competiram no tênis, vela, croquete, hipismo e golfe.
A equidade de gênero no principal evento esportivo do mundo, entretanto, aconteceu a passos lentos e demorou 124 anos para se tornar realidade. Foi só na última década que o Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a investir na promoção e no avanço do esporte feminino, buscando se envolver em projetos que tornem este espaço mais democrático.
Na última edição dos Jogos Olímpicos, em Tóquio, a participação feminina foi recorde. Do total de atletas presentes na capital japonesa, 48,8% eram mulheres.
Agora, em Paris, no mesmo lugar onde elas conquistaram o direito de competir, elas irão alcançar a igualdade no jogo. A Olimpíada de Paris 2024 será a primeira a ter 50% de atletas homens e 50% de atletas mulheres na disputa das mais diversas modalidades. Uma conquista de todas, que começou com Revithi e atravessou milhares de outras, para ser legado às gerações futuras.