por Chris Zelglia

A floresta não serve como um pano de fundo para o avanço.

Não é o verde que contrabalança o cinza das metrópoles, nem a vista que embeleza iniciativas de sustentabilidade.

A floresta é um sujeito: reflete, sente, comunica-se.

Ela narra sua própria trajetória na linguagem do vento, da chuva, da seiva e do silêncio.

No entanto, o Brasil ainda a considera um cenário, algo a ser explorado, representado, comercializado.

Ao ignorar sua voz, perpetuamos a lógica colonial que transforma tudo que é vivo em recurso.

A Amazônia não precisa ser resgatada, ela precisa ser ouvida.

A crença de que o ser humano é o eixo da Terra alimenta a tragédia ecológica. Essa visão coloca a floresta como coadjuvante, um espaço que aguarda administração e proteção. Mas as cosmologias indígenas e afro-brasileiras sempre souberam: a floresta é uma entidade viva, com vontade, espírito e memória. Ignorar isso é continuar a narrar a história do planeta na primeira pessoa do singular.

Quando consideramos a floresta somente como “meio ambiente”, diminuímos a conexão emocional e espiritual que os povos nativos têm com ela. É nessa conexão que se encontra o verdadeiro conhecimento ecológico, um conhecimento baseado na reciprocidade, na convivência e na escuta. A floresta não necessita ser ensinada pela ciência ocidental; ela é quem ensina.

A COP30, tem a oportunidade de desafiar essa visão. Porém, isso só se tornará viável se os locais de tomada de decisão forem ocupados por aqueles que falam a partir da floresta, e não sobre ela. A ecologia do amanhã é anticolonial e começa quando reconhecemos que o planeta não é um objeto, mas uma comunidade.

A floresta é um sujeito político e emocional.

Ela gera vida, linguagem e significado, não apenas oxigênio.

Redescobrir o Brasil profundo é reaprender a ouvir a voz da floresta, não apenas quantificá-la em hectares.

Enquanto continuarmos a tratá-la como cenário, perpetuaremos o mesmo enredo de destruição.

É urgentemente necessário trocar o autor.