
Franck Finance-Madureira celebra a potência do cinema queer no 27º Festival do Rio
Presidente do Prêmio Félix e fundador da Queer Palm discute desafios de cineastas LGBTQIAPN+ e a representatividade no cinema internacional
Por Sé Souza
Durante o 27º Festival do Rio, Franck Finance-Madureira, jornalista, crítico de cinema e presidente do Prêmio Félix, falou sobre a importância de celebrar narrativas LGBTQIAPN+ no cinema. Fundador da Queer Palm, o prêmio queer oficial do Festival de Cannes criado em 2010, Franck explicou como iniciativas como a Queer Palm e o Félix ajudam a dar visibilidade a filmes que desafiam normas de gênero e sexualidade.
A Queer Palm, que em 2025 celebra seu 15º aniversário, é dedicada a longas e curtas-metragens que abordam temas ou personagens LGBT+, feministas ou que questionam padrões de gênero. Todos os anos, um júri formado por diretores, atores e profissionais do cinema internacional seleciona os vencedores entre produções de todas as competições de Cannes, e já foi presidido por nomes como Lukas Dhont, John Cameron Mitchell, Bruce LaBruce, João Pedro Rodrigues, Julie Gayet, Virginie Ledoyen, Travis Mathews e Desiree Akhavan.
Além de presidir o Félix, Franck dirige o Queer Palm Lab, programa de mentoria e residência de um ano lançado em parceria com o Festival de Cinema de Morelia, no México, voltado para cineastas queer emergentes. Ele também administra o site FrenchMania, dedicado ao cinema francófono, e escreve para veículos como Têtu, Trois Couleurs e Strobo. Ao longo da carreira, integrou diversos júris internacionais em Berlim, São Francisco, Guadalajara, Tel Aviv, Lisboa, Torino, Belgrado e Milão.
O Prêmio Félix deste ano contou com um júri diverso e experiente, formado por Franck Finance-Madureira; Carolina Durão, diretora da série Rensga Hits! e de projetos de destaque internacional, como Doce Família; Chica Andrade, diretora, produtora e atriz com experiência em consultoria de projetos na Warner Bros e participação no Sundance Trans Possibilities; e Hedu Carvalho, idealizador do Cine Drag e ativista cultural LGBTQIA+, conhecido por promover diversidade e inclusão no cinema e no mercado editorial.
A cerimônia de premiação, realizada no domingo, 12 de outubro, consagrou produções que dialogam com a pluralidade queer: Ato Noturno, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, venceu como Melhor Filme Brasileiro; A Sapatona Galáctica (Lesbian Space Princess), de Leela Varghese e Emma Hough Hobb, levou o prêmio de Melhor Filme Internacional; o documentário Copacabana, 4 de Maio, de Allan Ribeiro, foi escolhido como Melhor Documentário; e Me Ame Com Ternura (Love Me Tender), de Anna Cazenave Cambe, recebeu o Prêmio Especial do Júri.
Para Franck, festivais e premiações LGBTQIAPN+ não apenas celebram a diversidade, mas funcionam como espaços de resistência cultural e política.
Na entrevista, ele destacou os desafios enfrentados por realizadores queer fora da hegemonia do cinema global, sobretudo diante do avanço do conservadorismo e da extrema direita, que frequentemente utiliza a comunidade LGBTQIAPN+ como bode expiatório, com impacto especialmente sobre pessoas trans. Franck também chamou atenção para a discrepância na representação queer nos filmes que ganham visibilidade internacional, ainda dominados por narrativas centradas em homens gays, enquanto histórias sobre mulheres lésbicas, pessoas trans e outras identidades de gênero e sexualidade permanecem sub-representadas.