Reflexões sobre a população em situação de rua e a invisibilidade de talentos
Políticas públicas inclusivas são fundamentais para que outros tantos talentos não sejam perdidos na invisibilidade.
Neste mês, o cantor e compositor Seu Jorge foi laureado com um Grammy, um reconhecimento que não só celebra sua trajetória artística, mas também joga luz sobre questões sociais profundas que marcaram sua vida.
A história de Seu Jorge é também a história de muitos brasileiros negros que enfrentam desafios estruturais. Ele perdeu o irmão para a violência, algo que nos lembra do debate urgente sobre segurança pública e de como a população negra é desproporcionalmente alvo dessa violência. Além disso, ele viveu a realidade de não ter onde morar, o que traz à tona a necessidade de políticas de moradia digna e de atenção às populações periféricas e negras.
Seu Jorge, que já foi morador de rua, é um exemplo vivo de como as ruas abrigam talentos extraordinários. Ele mostra que, com oportunidade e com o devido apoio, esses talentos podem florescer e enriquecer a cultura de um país. E, ao mesmo tempo, nos faz refletir sobre as políticas excludentes que muitas vezes marginalizam essas pessoas.
Nesse sentido, é importante lembrar que o governador Zema, em Minas Gerais, tem sido alvo de críticas por seus ataques às populações em situação de rua, justamente um grupo do qual Seu Jorge fez parte. A trajetória do artista evidencia que, entre aqueles que vivem nas ruas, há potencial e há histórias de vida que precisam ser vistas com humanidade e respeito.
A vitória dele nos mostra duas coisas. Primeiro, que a cultura negra é potência, é raiz, é patrimônio do Brasil. Segundo, que precisamos lutar para que essa potência não dependa do acaso ou de um golpe de sorte, ou de um furo na bolha, mas seja política de Estado. Isso significa investir em educação pública, em cultura de base, em políticas de cotas, em oportunidades para juventude periférica, em projetos comunitários.
Assim, o Grammy de Seu Jorge não é só um prêmio musical, mas um símbolo de resistência e de afirmação da cultura negra e periférica, lembrando que políticas públicas inclusivas são fundamentais para que outros tantos talentos não sejam perdidos na invisibilidade.