Dia das Mães e de luta
Ser mãe no limiar do apocalipse é ato revolucionário
Neste primeiro Dia das Mães com minha filha Rubi nos braços, quero compartilhar reflexões urgentes sobre a maternidade contemporânea. O amor materno hoje se revela menos como instinto natural e mais como escolha deliberada – decisão diária de dedicar-se integralmente a um ser que depende desse amor, expresso em cuidado com afeto, para existir.
Em meio à chuva carioca deste dia simbólico, meu pensamento se volta às mães que vivem maternidades atravessadas pela tragédia: àquelas de Gaza, carregando filhos feridos ou inertes sob bombardeios; às das favelas brasileiras, roubadas no direito de ver suas crianças crescerem; às etíopes, esgotadas pela fome que seca até o leite sagrado; entre tantas.
Mas penso também nas mulheres que enfrentam “maternidades rotineiras”, cumprindo jornadas múltiplas – trabalho, estudo, cuidados familiares – muitas vezes solitárias nesta tarefa titânica de educar seres humanos num planeta em colapso.
Ser mãe no limiar do apocalipse é ato revolucionário: fé concreta na capacidade humana de transformar fins em recomeços. Por isso convoco todas nós – especialmente as negras, indígenas e periféricas – à organização coletiva contra os pilares da destruição: o 1% global e patriarcal que lucra com guerras e desigualdades, com as estruturas racistas, machistas e lgbtfóbicas, com a exploração predatória da Terra.

Que o nosso amor materno não seja apenas colo acolhedor, mas trincheira firme contra todas as opressões. Pois amar neste tempo exige mais do que cuidado individual – requer revolução coletiva capaz de gestar novos mundos, para Rubi e todas as crianças.
Renata Souza é deputada estadual, jornalista, doutora em Comunicação e Cultura, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alerj