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Yamandú Orsi assume a presidência e devolve o poder à esquerda no Uruguai
“Hoje não começa um tempo de refundação, mas sim um de novas propostas e de construção permanente”, disse Orsi em um discurso após sua posse.
O presidente eleito do Uruguai, Yamandú Orsi, prestou juramento ao cargo no sábado diante da Assembleia Geral, com a aspiração de reverter os “problemas urgentes que afetam setores importantes do povo uruguaio” ao longo dos cinco anos em que estará à frente da nação sul-americana.
Orsi, herdeiro político do ex-presidente José “Pepe” Mujica, torna-se o terceiro mandatário de esquerda na história recente do país, consolidando o domínio de uma corrente política que governou entre 2005 e 2020.
“Hoje não começa um tempo de refundação, mas sim um de novas propostas e de construção permanente”, disse Orsi em seu discurso após a posse.
A cerimônia contou com um número recorde de líderes mundiais, entre eles os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; da Colômbia, Gustavo Petro; do Chile, Gabriel Boric; e do Panamá, José Raúl Mulino. Também estiveram presentes o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e o rei da Espanha, Felipe VI.
O mandatario assume as rédeas do Uruguai, um país de aproximadamente 3,5 milhões de habitantes, em um momento de tensão e fragmentação regional, no qual alguns líderes expressaram preocupação com o avanço da ultradireita. Entre seus desafios, terá que lidar não apenas com as diferentes posturas no continente, mas também com as divergências dentro do próprio bloco progressista regional e às estratégias para enfrentar a “ofensiva” do presidente norte-americano Donald Trump, que não viajou ao Uruguai, mas enviou uma delegação presidencial liderada pela senadora norte-americana Katie Boyd Britt.
Os líderes da esquerda latino-americana aproveitaram a cerimônia de posse na capital uruguaia para discutir os desafios da região e enviar um sinal de unidade.
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Convidados por Lula, os presidentes do Chile, da Colômbia e do Uruguai participaram de um jantar na sexta-feira para alinhar suas ações e “fortalecer a democracia”, afirmou o presidente brasileiro. Lula também aproveitou o encontro para se reencontrar com seu amigo, o ex-presidente Mujica.
Cosse, primeira vice-presidenta
Além do retorno da esquerda ao poder, o novo governo terá, pela primeira vez em sua história, uma vice-presidenta. Trata-se de Carolina Cosse, ex-intendenta de Montevidéu e ex-ministra da Indústria do presidente Tabaré Vázquez. Cosse também é considerada herdeira política de Pepe Mujica e, junto com Orsi, conseguiu fortalecer esse tandem frenteamplista para preservar o legado do ex-mandatário uruguaio.
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Durante a posse, Cosse não conseguiu disfarçar sua emoção, enquanto Orsi retribuiu os cumprimentos de forma mais contida. A vice-presidenta esteve visivelmente comovida desde o início do trajeto e retribuiu as demonstrações de carinho dos presentes com gestos de abraço, corações feitos com as mãos e batidas no peito.
Desafios pela frente
Por outro lado, no cenário interno, Orsi enfrentará o grande desafio de administrar as expectativas da ala mais radical de sua própria coalizão e dos poderosos sindicatos do país, responsáveis por grande parte dos votos que garantiram sua vitória nas eleições.
Além disso, terá que lidar com as diferentes forças políticas que compõem o novo Parlamento, já que a Frente Ampla obteve uma estreita maioria no Senado (16 dos 30 assentos) e ficou abaixo da maioria na Câmara dos Deputados.
A posse de Orsi, de 57 anos, marca o retorno ao poder da Frente Ampla, uma coalizão de centro-esquerda que inclui moderados, comunistas e sindicalistas de linha dura, após cinco anos de ausência durante o governo do presidente de centro-direita Luis Lacalle Pou.
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Acompanhado por sua companheira de chapa, Carolina Cosse, o novo mandatário chegou ao Palácio Legislativo de Montevidéu às 14h, horário local (17h GMT), sob aplausos da multidão reunida do lado de fora. Pouco depois, prestou juramento diante do renovado Congresso, três meses após sua vitória presidencial em uma eleição tranquila, amplamente elogiada como um antídoto à polarização política que afeta países vizinhos como Argentina e Brasil, entre muitos outros no mundo.
Após a posse, Orsi seguiu de carro para um cortejo rumo à Praça da Independência, em meio a gritos e saudações de uma animada multidão com bandeiras, onde foi recebido pelo presidente cessante para a passagem da faixa presidencial. Neste ato de encerramento, também nomeou seu gabinete de ministros.