Por João Flores

A resposta é: nunca. A gente nunca viu uma temporada pré-Oscar como esta – e, com todo esse interesse, vieram também as dúvidas e confusões, entre outras coisas, acerca das diversas categorias chamadas técnicas da premiação.


Na noite de domingo (2), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (a AMPAS, na sigla em inglês) distribuirá estatuetas aos vencedores em vinte e três categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Animação, Melhor Documentário e Melhor Filme Internacional, além de Melhor Canção Original, quatro categorias de atuação e três de curtas-metragens.


Mas os prêmios que costumam gerar mais confusão nos espectadores da cerimônia são aqueles oferecidos aos chamados “departamentos técnicos” dos filmes, responsáveis pelo fazer cinematográfico por trás das câmeras.
Se você quer entender de uma vez por todas o que cada uma dessas categorias premia e acompanhar a distribuição das estatuetas como um verdadeiro especialista, se liga nesse guia que preparamos para você.

Roteiro Original

O roteirista de um filme é responsável por contar a história que será filmada de maneira ativa e visual, priorizando a exposição da trama e dos conflitos por meio da ação e usando os diálogos como complementos da condução da trama e do desenvolvimento dos personagens. Também é papel do roteiro estruturar essa história de maneira coerente e, se possível, original, assim como retratar personagens críveis com os quais o espectador possa se identificar. Para a Academia, roteiro original é aquele que não foi baseado em nenhum material lançado previamente.


Este ano, os roteiros originais indicados pela Academia são:

  • Anora (Sean Baker)
  • O Brutalista (Brady Corbet, Mona Fastvold)
  • Setembro 5 (Moritz Binder, Tim Fehlbaum; coescrito por Alex David)
  • A Substância (Coralie Fargeat)
  • A Verdadeira Dor (Jesse Eisenberg)

Roteiro Adaptado

Os atributos do roteiro adaptado são os mesmos do roteiro original, com a adição do trabalho de transposição de uma obra prévia para a linguagem do cinema. Para a Academia, são considerados roteiros adaptados aqueles que se baseiam não apenas em livros, peças e HQs, mas também qualquer refilmagem, continuação, reboot ou spin-off, e mesmo textos baseados em produtos conhecidos pelo público, como é o caso de Barbie.

Os roteiros adaptados indicados pela Academia este ano são:

  • Um Completo Desconhecido (James Mangold e Jay Cocks)
  • Conclave (Peter Straughan)
  • Emilia Pérez (Jacques Audiard; em colaboração com Thomas Bidegain, Léa Mysius e Nicolas Livecchi)
  • O Reformatório Nickel (RaMell Ross e Joslyn Barnes)
  • Sing Sing (Clint Bentley, Greg Kwedar; história de Clint Bentley, Greg Kwedar, Clarence Maclin, John “Divine G” Whitfield)

Design de Produção

O design de produção de um filme envolve os componentes físicos da construção visual da produção, dos cenários aos objetos que compõem a decoração das cenas. Com o advento das tecnologias que permitem a construção de cenários digitais, essa definição se expande para incluir também a criação virtual de cenários que simulam ambientes “reais” nos quais a história do filme se desenvolve.

Este ano, os trabalhos de design de produção indicados pela Academia são:

  • O Brutalista (Judy Becker; decoração do set: Patricia Cuccia)
  • Conclave (Suzie Davies; decoração do set: Cynthia Sleiter)
  • Duna: Parte 2 (Patrice Vermette; decoração do set: Shane Vieau)
  • Nosferatu (Craig Lathrop; decoração do set: Beatrice Brentnerová)
  • Wicked (Nathan Crowley; decoração do set: Lee Sandales)

Fotografia

Já a fotografia de um filme envolve todos os aspectos visuais imateriais da produção, como iluminação, efeito de lentes, ângulos de enquadramento e movimentação da câmera. Em um set de filmagem, o diretor de fotografia é responsável por captar as imagens planejadas pelo diretor da maneira mais funcional e estética possível, de acordo com a proposta, gênero e impacto desejado pelo projeto.

Este ano, os trabalhos de fotografia indicados pela Academia são:

  • O Brutalista (Lol Crawley)
  • Duna: Parte 2 (Greig Fraser)
  • Emilia Pérez (Paul Guilhaume)
  • Maria (Ed Lachman)
  • Nosferatu (Jarin Blaschke)

Montagem

O que se faz em cinema não é edição (editing é um falso cognato); é montagem, que significa a soma, o encadeamento e a organização de planos, cenas e sequências filmadas pelo diretor com o objetivo de gerar ritmo, manipular a percepção do espectador e até mesmo produzir novos sentidos durante a pós-produção.

Este ano, os trabalhos de montagem indicados pela Academia são:

  • Anora (Sean Baker)
  • O Brutalista (David Jancso)
  • Conclave (Nick Emerson)
  • Emilia Pérez (Juliette Welfling)
  • Wicked (Myron Kerstein)

Figurino

Esse é mais tranquilo: figurino (ou design de figurinos) são as roupas criadas e/ou escolhidas para os personagens, que devem impactar tanto sua trajetória na tela quanto a história como um todo.

Este ano, os trabalhos de figurino indicados pela Academia são:

  • Um Completo Desconhecido (Arianne Phillips)
  • Conclave (Lisy Christl)
  • Gladiador II (Janty Yates e Dave Crossman)
  • Nosferatu (Linda Muir)
  • Wicked (Paul Tazewell)

Maquiagem e Penteados

Esse também é autoexplicativo, envolvendo a caracterização facial e capilar dos atores com o objetivo de auxiliá-los em sua construção de personagens.
Este ano, os trabalhos de maquiagem e penteados indicados pela Academia são:

  • Emilia Pérez (Julia Floch Carbonel, Emmanuel Janvier e Jean-Christophe Spadaccini)
  • Um Homem Diferente (Mike Marino, David Presto e Crystal Jurado)
  • Nosferatu (David White, Traci Loader e Suzanne Stokes-Munton)
  • A Substância (Pierre-Olivier Persin, Stéphanie Guillon e Marilyne Scarselli)
  • Wicked (Frances Hannon, Laura Blount e Sarah Nuth)

Trilha Sonora Original

Nessa categoria, é avaliada a trilha sonora musical composta exclusivamente para cada filme – e, ao contrário do que possa parecer, não basta uma trilha sonora conter belas canções; elas precisam ser bem utilizadas no contexto do filme e auxiliar a contar a história e a transmitir as emoções desejadas pelo diretor.
Este ano, as trilhas sonoras originais indicadas pela Academia são:

  • O Brutalista (Daniel Blumberg)
  • Conclave (Volker Bertelmann)
  • Emilia Pérez (Clément Ducol e Camilles)
  • Robô Selvagem (Kris Bowers)
  • Wicked (John Powell e Stephen Schwartz)

Som

Desde 2001, as antigas categorias de mixagem de som e edição de efeitos sonoros foram fundidas em uma única categoria de som. Enquanto a mixagem de som de um filme é responsável pelo equilíbrio sonoro entre os diálogos, as músicas e os efeitos sonoros, a edição de som envolve a criação de efeitos exclusivos para o filme, que vão de ruídos de fundo a sons de passos, portas, pneus, chuva e absolutamente tudo que a cena exigir e que não for captado durante as filmagens por meio do som direto. O objetivo dos dois departamentos é criar uma experiência sonora imersiva, verossímil e agradável, que contribua com a construção do universo do filme sem chamar atenção demais para si.


Este ano, os trabalhos de som indicados pela Academia são:

  • Um Completo Desconhecido (Tod A. Maitland, Donald Sylvester, Ted Caplan, Paul Massey e David Giammarco)
  • Duna: Parte 2 (Gareth John, Richard King, Ron Bartlett e Doug Hemphill)
  • Emilia Pérez (Erwan Kerzanet, Aymeric Devoldère, Maxence Dussère, Cyril Holtz e Niels Barletta)
  • Robô Selvagem (Randy Thom, Brian Chumney, Gary A. Rizzo e Leff Lefferts)
  • Wicked (Simon Hayes, Nancy Nugent Title, Jack Dolman, Andy Nelson e John Marquis)

Efeitos Visuais

Nos dias de hoje, é muito fácil confundir elementos de fotografia ou design de produção criados digitalmente com efeitos visuais, mas, de forma geral, efeitos visuais envolvem a construção de elementos visuais especiais, que vão além da iluminação e dos cenários. Exemplos simples são explosões, acidentes, terremotos, trocas de tiros e naves espaciais – mas podem ir, e normalmente vão, muito além disso. No Oscar, não há divisão entre efeitos visuais práticos (realizados sem o auxílio de computador) e digitais.

Este ano, os trabalhos de efeitos visuais indicados pela Academia são:

  • Alien: Romulus (Eric Barba, Nelson Sepulveda-Fauser, Daniel Macarin e Shane Mahan)
  • Better Man: A História de Robbie Williams (Luke Millar, David Clayton, Keith Herft e Peter Stubbs)
  • Duna: Parte 2 (Paul Lambert, Stephen James, Rhys Salcombe e Gerd Nefzer)
  • Planeta dos Macacos: O Reinado (Erik Winquist, Stephen Unterfranz, Paul Story e Rodney Burke)
  • Wicked (Pablo Helman, Jonathan Fawkner, David Shirk e Paul Corbould)

Direção

O diretor é o grande coordenador de toda a equipe técnica do filme, além da pessoa responsável pela direção dos atores. Em um set de filmagem, é a autoridade final em todas as decisões criativas do projeto e responde apenas aos produtores. Existem muitos níveis diferentes de “autoralidade”, ou controle criativo de um diretor, em diferentes tipos de projeto; mas, de modo geral, o trabalho de direção envolve a concepção conceitual do filme em seus aspectos visuais e a liderança de todos os departamentos técnicos da produção e pós-produção, a fim de transformar o roteiro em uma obra audiovisual.

Este ano, os trabalhos de direção indicados pela Academia são:

  • Anora (Sean Baker)
  • O Brutalista (Brady Corbet)
  • Um Completo Desconhecido (James Mangold)
  • Emilia Pérez (Jacques Audiard)
  • A Substância (Coralie Fargeat)

E aí? Conseguiu compreender um pouco melhor o que cada categoria técnica do Oscar significa?

Então, prepara a fantasia para comemorarmos juntos o primeiro Oscar do Brasil neste domingo de carnaval!

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.