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Montenegro x Torres: Diferença na campanha de mãe e filha na campanha para o Oscar
Diferente de 1999, atualmente temos as redes sociais que impulsionam os conteúdos em uma velocidade muito maior.
Por Sabrina Ventresqui
Há 26 anos, Fernanda Montenegro fazia história ao se tornar a primeira mulher latino-americana a concorrer na categoria de Melhor Atriz. Dando vida à personagem Dora em “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles, Montenegro chegou a Hollywood. Naquele ano, ela concorria ao lado de estrelas já consagradas como Meryl Streep, Cate Blanchett, Emily Watson e Gwyneth Paltrow, que se sagrou vencedora no final da noite. Agora, Fernanda Torres, filha de Montenegro, tem a chance de trazer a estatueta de Melhor Atriz para casa com “Ainda Estou Aqui”, também dirigido por Walter Salles. Diferente do que aconteceu em 1999, alguns veículos de comunicação estadunidenses realmente apostam na vitória de Torres, como o New York Times. Mas, o que mudou para fazer com que 2025 tenha um cenário muito mais otimista do que o de 1999?
A derrota de Montenegro para Paltrow é, até hoje, vista como uma das maiores injustiças da premiação. Mas, primeiro é preciso relembrar a história para entender como tudo se desenrolou.
À época, “O Resgate do Soldado Ryan” de Steven Spielberg despontava como favorito e era o “queridinho” da crítica. O verdadeiro coqueluche do momento. Enquanto Paltrow concorria por seu papel em ‘Shakespeare Apaixonado’, da Miramax, de Harvey Weinstein (sim, ele mesmo), que à ocasião era uma produtora independente. Além desta obra, a produtora estava no páreo por “A Vida é Bela” na categoria de Melhor Filme Estrangeiro – que também venceu.
Sabendo que poderia perder a cobiçada estatueta dourada para Spielberg, Weinstein – que ainda não era persona non grata em Hollywood e a carreira estava em ascensão – deu início a uma campanha de marketing sangrenta para promover o filme protagonizado por Paltrow. E é claro que ‘Central do Brasil’ não teve o mesmo investimento.
A estratégia ostensiva da Miramax deu certo e tanto ‘Shakespeare Apaixonado’ como ‘A Vida É Bela’ saíram premiados na edição.
IMPORTÂNCIA DA CAMPANHA
Com o marco “zero” inaugurado por Weinstein, as campanhas viraram essenciais para qualquer que quisesse ter ao menos uma chance de conquistar o carequinha dourado. De acordo com a professora Carolina Araújo, que trabalha com Cinema em Mato Grosso há 25 anos, uma campanha bem feita pode mudar os rumos da premiação
“Quando uma campanha leva o filme aos formadores de opinião, que passam a fazer resenhas, críticas, chamar a atenção do espectador para que vá assistir tal filme, começam a criar conteúdos dos mais diversos multiplataformas que são complementares, para levar questões do filme aos mais diversos públicos, quando a campanha cria a conexão certa, pertencimento, urgência, respeitabilidade, atributos que agregam competências valiosas para a película, trazendo a tona os highlights que o filme tem, potencializando os pontos fortes, pode sim ser uma campanha vencedora, e fazer o filme ganhar”, explicou Araújo.
TÁ, MAS O QUE ISSO TEM A VER COM FERNANDA TORRES?
Torres está fazendo o que Fernandona não teve a oportunidade de fazer. Com uma equipe comprometida e estratégias exitosas, Nanda foi capa de revista, foi a eventos internacionais, programas de grande audiência nos Estados Unidos como o Jimmy Kimmel e Good Morning America, por exemplo.
Além disso, hoje existe um enorme fator que impacta nas campanhas: a Internet. Antes,a mídia digital era escassa e limitada a certos públicos e classes sociais. Então, todas as notícias sobre Montenegro eram veiculadas na imprensa tradicional, ou seja, jornais, revistas, rádios e televisão. Mesmo ‘Central do Brasil’ e Montenegro sendo publicizados pela mídia tradicional, não era na mesma velocidade e intensidade da atualidade.
O engajamento dos brasileiros nas redes sociais também impulsiona o filme e Torres, já que existe um envolvimento da sociedade muito maior do que ocorreu na campanha de 1999. Esse envolvimento, faz com que a premiação, esteja mais próxima, num sentido de pertencimento do povo brasileiro, que consegue se ver nessa premiação, torcer, sonhar e fazer campanha mesmo para que outros povos vejam, tenha curiosidade pelo filme. Não é à toa que “Ainda Estou Aqui” se tornou a maior bilheteria de um filme latino – americano no Reino Unido e Irlanda, conforme pontuou Araújo.
Para nós, brasileiros, Nanda já é vencedora, independente do resultado no domingo.
Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.