Por Tamara Louise

O cinema nacional vive uma fase memorável. Ainda Estou Aqui, adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, conquistou público e crítica, garantindo três indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme. Além de consolidar seu impacto global, o longa resgata um dos capítulos mais marcantes da história do Brasil: a luta de Eunice Paiva para descobrir o paradeiro do marido, Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar.

Interpretar Marcelo Rubens Paiva, personagem que carrega esse peso histórico, foi um desafio para Antonio Sabóia. O ator mergulhou no papel, buscando transmitir a complexidade de alguém que, além de viver essa história, se tornou símbolo de resistência. “Foi uma honra interpretar a pessoa que deu voz a essa trajetória. Passei algumas noites em claro, preocupado em acertar o tom do Marcelo no filme do Walter [Salles], em fazer jus a quem ele é semcair na caricatura”, conta Sabóia.

Para compor o papel, o ator teve um encontro com o próprio escritor, experiência que considerou essencial. “Marcelo me recebeu como um amigo querido. Foi extremamente generoso ao abrir sua vida e sua casa para mim, sem qualquer restrição na troca. Fiquei admirado com sua sede de vida, sua energia, ele não para!”, relembra.

Além do contato direto, Sabóia aprofundou sua preparação com um extenso estudo sobre a ditadura militar e a família Paiva. “Minha esposa, que é psicóloga, chegou a montar um genograma da família, o que foi extremamente útil para entender melhor essas relações”, revela. Outro desafio foi trabalhar a fisicalidade do personagem. “A última etapa talvez tenha sido a mais desafiadora: encontrar o corpo do Marcelo, entender como ele se movimenta, como ocupa o espaço, me confrontar com o olhar das pessoas, assimilar isso e encontrar um novo prisma sobre as coisas.”

Com três indicações ao Oscar, Ainda Estou Aqui já é um marco do cinema brasileiro. Sobre a premiação, Sabóia mantém a cautela, mas reconhece a relevância do feito. “Sou comedido em relação às minhas expectativas, mas torço para que o Brasil volte para casa com sua primeira estatueta. Ainda assim, a indicação histórica a Melhor Filme, junto com as outras nomeações, já é algo grandioso.”

O sucesso do longa também reflete uma nova fase do audiovisual no país. “O sucesso de Ainda Estou Aqui coincidiu com uma verdadeira efervescência do cinema brasileiro. Filmes como Manas, Malu, Baby, O Auto da Compadecida 2, O Último Azul – premiado em Berlim – e, em breve, O Agente Secreto, entre vários outros, mostram que estamos vivendo um momento muito especial.

Texto produzido em colaboração a partir da Comunidade Cine NINJA. Seu conteúdo não expressa, necessariamente, a opinião oficial da Cine NINJA ou Mídia NINJA.