Maior questão política do nosso tempo, a emergência climática é hoje um fato quase incontestável. De acordo com uma pesquisa do Datafolha publicada em julho, 97% dos brasileiros admitem perceber no próprio dia a dia os efeitos do aquecimento global.

As enchentes que arrasaram o Rio Grande Sul no início do ano e a seca severa que tem potencializado as queimadas em grandes áreas da Amazônia e do Pantanal parecem ter terminado de abrir os olhos da população: o planeta está passando por uma mudança radical, e precisamos de uma estratégia urgente para lidar com o que está por vir.

Uma das principais questões é como tornar nossas áreas urbanas mais adaptáveis e resilientes, para mitigar os efeitos da crise do clima e garantir qualidade de vida para a população.

Um bom exemplo de como fazer isso vem de Curitiba. Ali, a iniciativa do Terraço Verde, que existe desde 2018, trocou o cinza do concreto pelo cultivo de uma área verde no topo de um edifício localizado no Alto da XV, região central da cidade. O espaço agora é um laboratório que se tornou referência nacional na elaboração de soluções urbanas.

O local atrai acadêmicos, pessoas comuns interessadas no tema da sustentabilidade e ativistas ambientais. “Tem uma troca muito forte, contínua, entre todo esse pessoal. Então, quando alguém traz um problema, logo depois começamos a discutir uma solução”, explica João Paulo Mehl, idealizador e gestor do Terraço Verde.

O conceito é parecido com o que vem sendo desenvolvido em Cingapura, hoje considerada a cidade mais verde do mundo, e que começou a expandir sua arborização justamente para enfrentar o rápido aumento das temperaturas.

Na capital do Paraná, o Terraço Verde ajuda os frequentadores do prédio da Rua Itupava, 1299, a enfrentar as cada vez mais frequentes ondas de calor, quando os termômetros chegam a atingir até 32º C, mesmo durante o antes famoso inverno da cidade.

“Eu converso com o pessoal e eles dizem que agora nem precisam mais ligar o ar-condicionado”, comenta João Paulo.

Além de poupar a energia antes gasta com os aparelhos de refrigeração, o Terraço absorve e armazena a água da chuva por meio da vegetação. Com uma política de Lixo Zero, separa adequadamente todo o seu material reciclável e usa composteiras para transformar os resíduos orgânicos em fertilizantes, evitando que os dejetos cheguem às ruas e obstruam galerias pluviais.

Isso contribui com o bem-estar da população em outra frente, ajudando a combater enchentes, alagamentos e inundações, outro problema cada vez mais presente na vida dos curitibanos

Candidato a vereador pelo PT, João Paulo Mehl quer transformar a experiência do Terraço Verde em política pública, espalhando o projeto por toda a cidade. “Pra isso, é necessário criar incentivos para a população, como o IPTU Verde, com desconto no imposto pra quem adotar iniciativas sustentáveis”, diz. “É assim que vamos promover a regeneração verde e transformar Curitiba novamente numa referência para o Brasil.”