Onde estão as Paralimpíadas de Paris 2024?
Após ampla cobertura da mídia nas olimpíadas, edição paralímpica tem transmissão suprimida e cobertura reduzida pela TV aberta brasileira
Por Danilo Lysei e Samuel Seiffert para a Cobertura Colaborativa NEC Paris2024
Com o fim das Olimpíadas de Paris 2024 e o saldo positivo de medalhas da delegação brasileira, fica no ar a sensação de quero mais. A expectativa de dias intensos, divididos entre o trabalho e as competições transmitidas desde cedo, ainda ecoa. Foram dias de acompanhar provas, vibrar por nomes que já conhecíamos e por aqueles que, pela primeira vez, nos arrepiaram de emoção.
É neste cenário que os Jogos Paralímpicos iniciam sua temporada, amanhã (28). Com a missão de reviver o “espírito em movimento” dos Agitos em cada um de nós e, no caso do Brasil, de exibir a potência paralímpica do país em busca de elevar o número de pódios alcançados e estar entre as cinco maiores nações do paradesporto.
Mas onde assistir?
Diferente da cobertura olímpica, a edição Paralímpica de 2024 chega com um desafio que tem sido recorrente quando se trata de visibilidade da competição: a quase eliminação da transmissão pela TV aberta brasileira e a diminuição da cobertura da mídia tradicional.
Na contramão da edição de Tóquio 2020, em que os jogos foram transmitidos pelo SporTV (Grupo Globo) e TV Brasil – ainda que com suas disparidades entre olimpíadas e paralimpíadas -, a edição das Paralimpíadas de Paris 2024 terá transmissão em língua portuguesa exclusiva pelo Grupo Globo, ficando o nível de cobertura integralmente a cargo da empresa – um monopólio para a imprensa aberta. O acordo de exclusividade com o grupo foi confirmado pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, do inglês).
A competição em Paris terá transmissão pelo SporTV das cerimônias de abertura, encerramento e de apenas 8 modalidades (natação, goalball, basquete em cadeira de rodas, atletismo, futebol de cegos, ciclismo, judô, vôlei sentado) e da maratona – ambas por canal fechado. Além disso, da programação prevista, o canal terá o programa Conexão Paris, a ser apresentado pela jornalista e apresentadora Joanna de Assis e pelo paratleta de natação e maior medalhista paralímpico brasileiro com 27 medalhas, Daniel Dias. Os detalhes foram divulgados pelo Comitê Brasileiro Paralímpico (CPB).
A definição do que e como será coberto, sem precedentes, difere completamente do então “ecossistema” criado e apresentado para as Olimpíadas de Paris 2024 pela próprio Grupo Globo, onde a empresa dedicou mais de 200 horas de transmissão aberta pela TV Globo, 4 canais do SporTV, mais de 40 sinais extras no Globoplay e cobertura via Globo Esporte (GE). Sem contar os mais de 400 profissionais e 100 comentaristas das modalidades olímpicas contratados especialmente para o evento, segundo números do próprio grupo.
Uma redução da edição paralímpica que, até às vésperas dos jogos, não tiveram informações oficiais divulgadas pelo grupo. Procurada, a Globo não retornou aos questionamentos feitos pela NINJA Esporte Clube.
Já a TV Brasil, que na última edição de Tóquio teve sua oficialização para a transmissão e levou a cobertura dos jogos de forma aberta via televisão e rádio, não teve os direitos de transmissão das provas por conta da exclusividade da Rede Globo. A empresa pública federal e 5ª emissora mais vista do país, para a edição de Paris 2024, poderá apenas realizar a cobertura via portal e redes sociais. Em nota, reforçou que “os veículos públicos da EBC – TV Brasil, Agência Brasil e Rádio Nacional – terão uma equipe de jornalistas em Paris para cobrir a Paralimpíada, da mesma forma que operou nos Jogos Olímpicos de 2024”.
CazéTV sem transmissão
Outra expectativa frustrada aos que acompanharam a edição olímpica deste ano é a não possibilidade de acompanhamento dos jogos Paralímpicos de Paris 2024 pela CazéTV, como opção. Procurada, a empresa confirmou em nota que embora tenha tentado adquirir também os direitos de transmissão das paralimpíadas, não obteve sucesso dada a exclusividade da Globo.
“A gente não tem os direitos dos Jogos Paralímpicos, é exclusivo de uma outra emissora, mas a gente vai continuar torcendo pelo Brasil, acompanhando os atletas e fazendo o possível que um não-detentor dos direitos pode fazer. Mas acompanhem e torçam pelos jogadores brasileiros, olímpicos e paralímpicos, sigam eles nas redes sociais.”
Casimiro, no final da Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos.
O canal gratuito na plataforma do YouTube, resultado da parceria entre o streamer Casimiro Miguel e a LiveMode, se tornou um concorrente direto da Rede Globo na captação de telespectadores e audiência. A CazéTV firmou um acordo de transmissão com os Comitês Olímpicos Internacional e Brasileiro (COI e COB, respectivamente), oferecendo acesso via internet de forma acessível. Com múltiplos canais simultâneos, transmissão ao vivo comentada e um tom descontraído, a empresa inovou ao reunir uma equipe de jornalistas renomados e atletas, alcançando resultados expressivos.
Durante as Olimpíadas deste ano, a CazéTV atingiu 41 milhões de dispositivos únicos no YouTube e alcançou 140 milhões de indivíduos no Instagram. Segundo dados da plataforma de vídeo, na final da ginástica artística olímpica, o canal registrou cerca de 4 milhões de acessos simultâneos, estabelecendo-se como a maior live da história dos esportes olímpicos. lém disso, a dinâmica criativa do Casimiro contribuiu no engajamento do público nas redes sociais dos próprios atletas brasileiros e dos apresentadores – uma forte marca da interface que o streamer já realiza fora dos jogos.
Para a edição paralímpica, a CazéTV promete participar da cobertura, ainda que de forma limitada, com o mesmo foco em aumentar o engajamento e a visibilidade dos atletas. “Durante as Paralimpíadas, a CazéTV terá uma cobertura intensa nas redes sociais, apoiando e torcendo pelos atletas brasileiros. Teremos atletas parceiros em Paris e um trabalho alinhado com o CPB para promover as competições, as conquistas e a dedicação dos atletas nas próximas semanas”, declarou Fabio Medeiros, Head de Conteúdo da CazéTV.
Direito constitucional e inclusão por intermédio do esporte
Segundo dados do IBGE 2022, são 71,5 milhões de domicílios com TV no Brasil, sendo 65,5 milhões com recepção de forma aberta. Ou seja, o equivalente a 91,6% dos domicílios do país com TV têm o seu acesso apenas pelo sinal aberto. A transmissão televisiva, em casos de eventos que ocorrem do outro lado do planeta como as Paralimpíadas, é uma das oportunidades de conexão entre cidadão e esporte, além de difundir a inclusão das pessoas com deficiência através da prática esportiva. Quando este acesso é tratado de forma exclusiva e/ou desigual sob justificativas de mercado e concorrência, o esporte perde sua democratização e, em um contexto paralímpico, contribui para a invisibilidade de grupos minoritários como as pessoas com deficiência.
Um maior enfoque nos feitos esportivos dos nossos paratletas ao invés de foco nas capacidades e limitações, também são desafios a serem extintos no trato da mídia tradicional nos Jogos Paralímpicos.
Dia a dia, o trabalho de inclusão de pessoas com deficiência (PcD) é realizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. Além do suporte ao paradesporto e condições de treinamento e performance, o CPB tem compromisso sério com a comunicação, publicização e transparência das entregas dos 280 atletas e atletas-guia da delegação brasileira paralímpica no pré, durante e pós jogos. Em Paris não será diferente. Fora o Guia de Imprensa 2024 construído para abastecer as coberturas jornalísticas com uma narrativa mais completa e anticapacitista, o CPB leva à edição a campanha “Mais que Vencedores: Brasileiros”, com a objetivo de conscientizar a torcida nacional e toda uma geração em relação à inclusão por intermédio do esporte.
Com o mesmo compromisso, a NINJA Esporte Clube se prepara para uma cobertura integral e colaborativa dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, fundamentada em uma narrativa plural, anticapacitista e legítima quanto aos feitos dos atletas e da delegação, seguindo o exemplo das Olimpíadas.
Serviço
Os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 começam nesta quarta-feira (28) e vão até o dia 8 de setembro. Ao todo, o Brasil participa de 20 das 22 modalidades disponíveis.
Frente às limitações de acesso à edição, o Comitê Paralímpico Internacional (IPC, do inglês) anunciou a uma semana dos jogos que fechou parceria com o YouTube para transmissão da edição. Serão quase 1400 horas de cobertura ao vivo de todas as 22 modalidades disponíveis, além das cerimônias de abertura e encerramento. Pela primeira vez, haverá possibilidade multiview, para que os torcedores possam assistir até 4 transmissões simultâneas.
O IPC também fechou parceria com o TikTok para acompanhamento do público.