Por Natalia Rohn, Danilo Lysei e Marina Batista

Sob o lema “Nós Temos Asas”, as Paralimpíadas Tokyo 2020 começaram nesta terça-feira (24). Considerado o maior evento de paradesporto do mundo, onde recordes paralimpícos são quebrados e atletas alcançam grandes feitos, o evento esbarra novamente na falta de visibilidade na cobertura da mídia tradicional brasileira.

Podemos contar nos dedos a quantidade de canais televisivos pagos por onde as transmissões das competições são feitas. E pasmem: também é mínimo o espaço cedido na imprensa aberta.

Destaca-se a disparidade entre as transmissões dos Jogos Olimpícos e Paralimpícos. Por exemplo, o principal canal responsável pelo evento, o SporTV, contou com quatro canais dedicados integralmente nas madrugadas para as Olimpíadas, além de todos os sinais de competições ao vivo oferecidos pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), com mais de 840 horas de transmissões para seus assinantes por meio de sua plataforma de streaming privada do Grupo Globo. Nas Paralímpiadas, a transmissão será feita em apenas um canal, o Sportv2, com 8x menos horas dedicadas (pouco mais de 100 horas de transmissão) às 20 modalidades em que o Brasil participará, dentre as 22 da competição.

Logo no primeiro dia de transmissões, o canal SporTV cometeu aberrações televisivas em uma cobertura de tamanha importância: reprisou o jogo da brasileira mesatenista Danielle Rauen contra a húngara Alexa Szvitac, que competiam pela Classe 9 e colocou um comentarista na reprise de forma que a transmissão parecesse ser ao vivo. O problema é que enquanto o jogo era reprisado, acontecia naquele mesmo momento a disputa do brasileiro Luiz Filipe Manara, também mesatenista, pela classe 8.

Como se isso já não fosse suficientemente problemático e antes que alguns pensem que havia pouco espaço na programação, o SporTV optou por reprisar uma prova Olímpica do canoísta brasileiro Isaquias, ao invés de transmitir as competições de diferentes modalidades paralímpicas que estavam ocorrendo naquele momento. Era possível acompanhar no momento da reprise Olímpica no Sportv, apenas 4 modalidades ao vivo no canal oficial dos Jogos Paralímpicos no YouTube. E se você não viu comentários sobre transmissão na TV aberta, é porque ela é praticamente inexistente, com alguns poucos eventos transmitidos pontualmente pela TV Brasil e raros na Rede Globo.

Necessidade da cobertura integral e real

O acesso ao esporte é direito de todo cidadão e eventos mundiais, como o iniciado na última terça-feira, aproximam ainda mais o espectador às modalidades, muitas vezes desconhecidas. A TV é a grande oportunidade de muitos terem contato com o paradesporto pela primeira vez já que, de acordo com o IBGE, cerca de 97% dos domicílios do país possuem pelo menos um aparelho. O alcance da televisão é indiscutível e mostra apenas momentos considerados de “relevância”, depreciando os Jogos Paralímpicos, como um evento menor que as Olimpíadas, é a principal barreira para a visibilidade e popularidade dos jogos paralímpicos. Tratar os jogos de maneira diferente é desvalorizar individualmente os atletas, a preparação técnica esportiva e o rendimento paralímpico; bem como não cumprir com a desmistificação e combate à subvalorização de pessoas com deficiência (PCD).

Fotografia de um estudio de televisão. À esquerda há um telão onde aperece a mensagem "somos todos olímpicos". Ao lado do telão está um apresentador de TV. Na lateral direita é há uma câmera de vídeo filmando o jornalista.

Foto: Divulgação / TV Globo

A NINJA Esporte Clube foca precisamente nisso: a cobertura integral, plural e legítima do evento paralímpico. “É a primeira vez que a gente tem a oportunidade de falar de Pessoas com Deficiência (PCD) de um outro lugar que não seja o imposto pela sociedade”, destaca a ativista LGBTQIAP+ e PCD, Mídia NINJA, Leandrinha Du Art, ao reforçar sobre o lugar de protagonismo da PCD, pautado por PCD, em contribuição às coberturas e discussões anticapacitistas. “E quando a gente olha para esses corpos como ferramenta de potência, uma vez que é vangloriado sua alta performance também, a gente (mídia) demarca um lugar político quando a discussão é pessoas com deficiência dentro do Brasil”.

As paralimpíadas expandem horizontes oferecendo contato e conhecimento de realidades e vivências diversas para as pessoas, assim como as Olimpíadas. É necessário que a grade de programação televisiva cubra o todo, não apenas aquilo que entende como importante ou que seja referente aos paratletas brasileiros. Não faça diferença de estrutura e coloque em prática os valores que seus slogans do evento e narradores invariavelmente citam em suas coberturas: atletas com deficiência são atletas acima de tudo e merecem respeito e tratamento igual a qualquer outro atleta.

Texto produzido para cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube