Bancada dos falsos profetas
Os casos de desvios de conduta são cada vez mais frequentes, mas a bancada e suas igrejas não os condenam publicamente e, com frequência, os mantém como pastores
“Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos”. Essa advertência feita por Jesus Cristo, registrada em Mateus 7:15-20, continua valendo.
Em 21 de maio de 2022, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, indicado para o cargo no governo passado pela chamada bancada evangélica, disse que favorecia, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, prefeituras de municípios ligados a pastores.
Para apurar a santa manipulação dos recursos destinados à educação, a Polícia Federal instaurou um inquérito, ao qual o ex-presidente reagiu: “Estão fazendo uma covardia contra ele”. “O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto a minha cara toda no fogo pelo Milton”. Uma semana depois, outro inquérito foi aberto para apurar a distribuição, pelo Ministério da Educação (MEC), de bíblias impressas com a foto de Ribeiro na contra-capa.
A indignação foi geral, inclusive entre evangélicos. Bolsonaro teve que demiti-lo. Ao sair de Brasília, Ribeiro deixou cair um revólver ao lado do balcão de embarque, que disparou e feriu uma funcionária do aeroporto. Não foi o cara de pau que se queimou.
Cambada
A bancada evangélica prima pela defesa do que considera bons costumes e se esmera em criminalizar quem pensa diferente. Sempre que ocorrem casos de pastores envolvidos com pedofilia, estupros, assassinatos ou apropriação do dízimo para luxos pessoais, alega tratar-se de uma minoria entre milhares de pastores. Porém, os casos de desvios de conduta são cada vez mais frequentes, mas a bancada e suas igrejas não os condenam publicamente e, com frequência, os mantêm como pastores.
Da mesma forma, a maioria desses pastores-parlamentares adora o ex-presidente, que os privilegiou com verbas públicas enquanto deixava morrer centenas de milhares de pessoas por falta de vacina, disseminava armas entre civis e aumentava o sofrimento e a miséria dos mais pobres. “Não se pode servir a dois senhores”!
Foi assim que, para além das isenções fiscais de que gozam as igrejas, o ex-presidente, às vésperas das últimas eleições, determinou a isenção de imposto de renda para as prebendas recebidas pelos pastores, um privilégio absurdo em relação ao restante da população.
Bocas vazias
Na semana passada, a Receita Federal revogou essa isenção, o que provocou reações iradas entre os beneficiados. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da bancada evangélica, disse que o governo atual odeia os evangélicos, insinuando que a decisão da Receita teria motivação política e tentando jogar os fiéis, que não recebem prebendas e não gozam de isenções, contra ele.
“Deixa eles serem eles, os resultados logo virão. Logo temos eleições municipais. Basta lembrar que nas eleições dos conselhos tutelares demos uma surra no governo e daremos outra. É só esperar que 2026 está logo ali“, disse Sóstenes, se referindo ao ano da reeleição de Lula.
“Aos profetas que fazem o meu povo desviar-se, e que, quando lhes dão o que mastigar, proclamam paz, mas proclamam guerra santa contra quem não lhes enche a boca”. (Miquéias 3:5-7)
São palavras de Jesus Cristo, que expressam a sua justa indignação contra aqueles que manipulam a fé das pessoas para encherem os próprios bolsos.