Por Luiza Diniz

Aos 22 anos, Lia Thomas se tornou a primeira mulher trans campeã de uma prova da NCAA (National Collegiate Athletic Association). A nadadora representou a Universidade da Pensilvânia na liga universitária americana e conquistou a vitória nas 500 jardas livres.

Porém, essa conquista inédita dividiu opiniões e gerou reações polêmicas, inclusive de suas adversárias. Já no pódio, as rivais Emma Weyant, Erica Sullivan e Brooke Forde se reuniram para tirar uma foto, excluindo Thomas do registro.

A imagem repercutiu e Sullivan se posicionou em suas redes sociais parabenizando a vencedora e esclarecendo que foi submetida a falsas alegações pela mídia conservadora. Sullivan é abertamente lésbica e recentemente escreveu um artigo para a revista Newsweek com o título: “Por que tenho orgulho de apoiar atletas trans como Lia Thomas”.

“Como mulher no esporte, posso dizer a você que sei quais são as verdadeiras ameaças ao esporte feminino: abuso e assédio sexual, salários e recursos desiguais e falta de mulheres na liderança. Meninas e mulheres transgênero não estão nesta lista”, escreveu Sullivan.

Lia chegou a ser insultada por algumas torcedoras que não concordavam com sua participação na competição, sendo pouco aplaudida após o anúncio do resultado. Isso se deve ao fato de Lia ter competido por três anos na equipe masculina, antes de passar pelo processo de transição de gênero.

De acordo com as regras da NCAA, Thomas está apta a competir pela categoria feminina, já que cumpriu o período de um ano de tratamento de supressão de testosterona.

Sobre a críticas, Lia Thomas prefere não dar ouvidos e se manter firme no seu objetivo: “tento ignorar o máximo que posso. Focar na minha natação, no que preciso fazer para estar pronta para as provas. Apenas tento bloquear todo o resto. Significa o mundo para mim estar aqui”, disse a nadadora, em entrevista à ESPN americana.

Caitlyn Jenner, celebridade transgênero que já foi medalhista olímpico no decatlo masculino, saiu em defesa de Lia em publicação no Instagram.

“Ver essa imagem e comentar tudo na semana passada foi tão desanimador e me lembra totalmente o quão importante é apoiar o esporte feminino”.

Show de transfobia na política

O governador da Flórida, Ron DeSantis, emitiu uma decreto deslegitimando o título conquistado por Lia Thomas. Ele afirma que Emma Weyant, uma residente da Flórida que concorre pela Universidade da Virgínia e terminou em segundo lugar atrás de Thomas, era a “vencedora legítima” da corrida.

“É minha determinação que os homens não devem competir contra mulheres como Emma Weyant”, escreveu DeSantis em seu decreto. “… a Flórida rejeita os esforços da NCAA para destruir o atletismo feminino, desaprova a ideologia da NCAA e se ofende com a NCAA tentando tornar os outros cúmplices de uma mentira”.

A proclamação de DeSantis não tem poder para mudar o resultado da semana passada e é um reforço das políticas que vem adotando na Flórida. Em junho, ele sancionou o “Fairness in Women’s Sports Act”, que proíbe mulheres trans de competir em esportes femininos. O projeto de lei ‘Don’t Say Gay’ do estado também causou polêmica, e nesta semana o time de futebol Orlando Pride pediu desculpas depois de barrar uma faixa de torcedor que continha a palavra “gay”.

https://midianinja.org/jonasmaria/trans-nos-esportes-o-projeto-a-incoerencia-e-a-transfobia/

Na segunda-feira, o presidente da World Athletics, Sebastian Coe, disse que atletas transgêneros representam um risco para a integridade do esporte feminino.

“O gênero não pode superar a biologia. Como presidente da federação, não tenho esse luxo. É um luxo que outras organizações que não estão na extremidade prática de lidar com esses problemas”, disse Coe ao Daily Telegraph.

Weyant, que ganhou uma medalha de prata olímpica nos 400m medley individual no verão passado em Tóquio, ainda não comentou publicamente sobre a proclamação de DeSantis. Enquanto isso, Thomas optou por restringir seus comentários à natação.

“Tento me concentrar na natação, no que preciso fazer para me preparar para as corridas e tento bloquear todo o resto” , disse ela após a vitória de quinta-feira.

Com informações de The Guardian