“Cá não é a selva de onde vieste”. Mães de alunos brasileiros relatam xenofobia de professores em Portugal
86% dos imigrantes em Portugal dizem já ter sofrido preconceito. Brasileiros são a maioria.
O caso de agressão sofrido por uma estudante brasileira em Portugal na última semana tomou conta dos noticiários portugueses, ganhando repercussão também no Brasil. O caso, contudo, não é isolado e reabriu um importante debate sobre a xenofobia de imigrantes, especialmente brasileiros e/ou de pele preta, em cidades portuguesas. Os relatos podem ser ainda mais preocupantes se pesquisarmos casos especificamente em escolas ou creches, como o ocorrido contra a brasileira de 11 anos na última sexta-feira (12).
“Minha filha ouviu de uma auxiliar ao empurrar de volta um miúdo que tinha empurrado-a primeiro: ‘cá não é a selva de onde vieste. Comporta-te’. Minha filha tentou argumentar que estava só se defendendo, mas a colaboradora não quis saber”, disse Leilah, mãe uma ex-aluna da escola Voz do Operário. Ela relata que a filha era chamada de “a brasileira da boca estranha”, por conta de um problema dermatológico que tinha no entorno da boca.
O relato foi divulgado em uma reportagem de Cíntia Rocha para a CT Coluna de Terça, junto a diversos depoimentos envolvendo assédio, agressão verbal e até mesmo agressão física de cunho xenofóbico no ambiente escolar. E em muitos dos casos, os agressores eram os próprios professores.
“Estamos recebendo dezenas de relatos de agressões e xenofobia sofrido em escolas portuguesas. Tudo começou quando a Maria nos procurou pra pedir ajuda depois de seu filho de 7 anos ser agredido até sangrar na escola”, informou o perfil Brasileiras Não Se Calam, que expõe casos de violência contra brasileiros em outros países. “Infelizmente, isso mostrou-se ‘comum’. Muitos silenciam por medo, por proteção. Outros mudam as crianças de escola”.
O relatório “Experiências de Discriminação na Imigração em Portugal“, lançado pela instituição Casa do Brasil de Lisboa (CBL) em dezembro de 2020, mostrou que 86% dos imigrantes em Portugal já sofreram discriminação por conta de sua nacionalidade e os estereótipos ligados ela. A pesquisa “COMBAT – O combate ao racismo em Portugal: uma análise de políticas públicas e legislação antidiscriminação, entre 2006 e 2016”, da Universidade de Coimbra, traz outro dado. Das denúncias de discriminação no país, 44% era baseada com base na nacionalidade da vítima, principalmente brasileira, ucraniana, romena e moldava. Já 34,6% dos atos de discriminação se referem ao preconceito racial baseado na cor da pele.
As denúncias de discriminação racial e por nacionalidade podem ser feitas online no site da Comissão para a Igualdade contra a Discriminação Racial (CICDR), e não precisam ser feitas pela vítima, mas por testemunhas, familiares e amigos.
https://midianinja.org/news/brasileira-de-11-anos-e-agredida-em-escola-de-portugal-e-provoca-outros-relatos-de-xenofobia-no-pais/