Agro é Lula
Repitam comigo: “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Logo, agro pode ser Lula! Que também pode ser agro.
Repitam comigo: “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo”. Logo, agro pode ser Lula! Que também pode ser agro.
Semana passada, Lula reuniu-se com um grupo restrito, mas representativo, de pesos pesados do agronegócio. Os nomes não foram divulgados, mas tinha gente ligada à CNA, Confederação Nacional da Agricultura, à FPA, Frente Parlamentar da Agropecuária (vulgo bancada ruralista) e à cadeias produtivas de ponta na exportação de commodities. O encontro, reservado, ocorreu no escritório do advogado do Lula, Cristiano Zanin.
Lula demonstrou, com números, que o grande boom do agronegócio se deu durante os 13 anos de governo petista. E definiu a erradicação da fome como prioridade principal.
Uma maior disponibilidade de crédito para alavancar a produção foi a demanda destacada pelos representantes do agro, enquanto que a ocupação de terras pelo MST foi colocada como maior preocupação. Lula respondeu que “quer liderar o diálogo entre diferentes segmentos da sociedade para pacificar o país”, que teria sido prejudicado pela polarização política.
Comitê
O encontro do Lula com ruralistas não foi um fato isolado, mas mais um entre vários mantidos com empresários e políticos, inclusive supostos aliados do Bolsonaro. A preferência por Geraldo Alkimin, como vice, também se inscreve na estratégia de Lula de agregar apoios no centro-direita, para isolar Bolsonaro e derrotá-lo no primeiro turno das eleições presidenciais.
Também na semana passada, foi inaugurado em Cuiabá, na Associação Mato-grossense de Municípios, um comitê pró Lula. No evento, o prefeito de Rondonópolis, Zé do Pátio, do Solidariedade, disse que “os mais altos do agro vão todos apoiar o Lula”. Segundo ele, isso ocorrerá porque Lula “abriu mais o mercado”, enquanto Bolsonaro cria conflitos gratuitos com a China e com outros parceiros comerciais.
Embora Bolsonaro mantenha fortes apoios entre os ruralistas, em especial dos que detonam florestas e grilam terras públicas, há um reconhecimento crescente entre os exportadores, de que Lula dispõe de amplo reconhecimento internacional, o que é um ativo essencial para tirar o Brasil do isolamento a que foi relegado por Bolsonaro, destravando negociações comerciais como o acordo Mercosul – União Europeia.
Mas o apoio ao Lula cresce, sobretudo, entre os agricultores familiares, indígenas, quilombolas e extrativistas, que esperam o fortalecimento das políticas públicas voltadas para a produção de alimentos e para o combate à fome. Entre os que põem as mãos na massa, de verdade, Lula acumula vantagem sobre Bolsonaro.
Mediação
Mediar conflitos e unir os brasileiros, para tirar o país da crise é, sem dúvida, uma missão central do próximo presidente. A postura do Lula ao ampliar alianças e conversar com setores diversos, contrasta com o sectarismo do Bolsonaro e o coloca à frente dos demais candidatos. E também não há dúvida que o próximo presidente, recém eleito, terá poder de convocação sobre os diversos atores sociais.
Embora a crise hídrica deixe evidente a dependência da produção nas principais regiões agrícolas em relação às chuvas que vêm da Amazônia, a bancada ruralista ainda promove novas leis para estimular a grilagem de terras públicas e a invasão das terras indígenas, para fragilizar o licenciamento ambiental e para desproteger margens de rios e remanescentes florestais urbanos.
As representações ruralistas não são confiáveis em negociações. Acatam apenas aparentemente as soluções mediadas para, logo após a sua aprovação, já pressionar para ir além. Veja-se o caso do Código Florestal, promulgado por Dilma Rousseff em 2012, após acordar com os ruralistas uma ampla anistia a desmatamentos passados, mas que já foi alterado quatro vezes desde então, sempre para reduzir a proteção florestal.
Os ruralistas mantêm, no governo Bolsonaro, a direção dos principais órgãos federais afetos ao controle do território, como os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, o Incra, o Serviço Florestal Brasileiro, o Ibama, o ICMBio e a Funai. São os principais responsáveis pelos retrocessos em curso nas políticas socioambientais, inclusive pela alta do desmatamento e as invasões de terras indígenas e de unidades de conservação ambiental.
É compreensível que Lula proponha o diálogo como caminho para tentar gerir os conflitos latentes do país. O agronegócio tem um peso enorme na economia e no acirramento de conflitos rurais, não podendo ser ignorado. Dispõe de lideranças conscientes da gravidade da situação do clima mundial, em especial no setor exportador, mas também mantém uma numerosa base fascistizada pelo exercício violento do poder sob Bolsonaro.
Na real, Lula poderá passar quatro anos administrando conflitos, sem conseguir mediar soluções efetivas. Será pouco tempo para converter o setor, cujos representantes políticos estão viciados em exercer a sua hegemonia de forma excludente, sacrificando os direitos dos demais atores sociais do Brasil rural.