Cultura: o que fazer diante do tsunami Omicron…
Há dois anos a Cultura brasileira assumiu o fardo de ser o “primeiro setor a parar e o último a voltar”. Este ano, cancelar eventos não deve ser a única atitude possível.
Na última semana, o setor cultural viu novamente uma avalanche de cancelamentos de eventos e novas restrições foram anunciadas devido à onda causada pela variante Omicron.
De repente, produtores e artistas se viram presos dentro deste labirinto que é a luta contra a pandemia. Depois do início cuidadoso e paulatino que reavivou as esperanças de retomada das atividades no final de 2021, somos obrigados a assistir a um filme que parece se repetir e que não tem fim.
Há dois anos a cultura brasileira assumiu o fardo de ser o “primeiro setor a parar e o último a voltar”. Ao mesmo tempo foi a principal responsável por oferecer uma matéria prima fundamental para a manutenção da sanidade mental em tempos pandêmicos: a arte e o entretenimento.
Estudo recente divulgado pela UBC – União Brasileira de Compositores – mostrou que aproximadamente metade dos artistas não tiveram renda alguma em todo o ano de 2021. Fora do mainstream cultural o estrago da pandemia é gigante. A luta pela aprovação e execução da Lei Aldir Blanc foi um alento diante do completo extermínio das políticas públicas de cultura feito pelo governo Bolsonaro. Mas seu caráter emergencial não ofereceu ainda as bases de apoio necessárias para um segmento tão vasto, diverso e capilarizado.
A retomada era apenas o início de uma caminhada que é longa e árdua, e por isso, a nova onda se transforma num verdadeiro tsunami para a cultura brasileira.
Os festivais de música durante todo este processo tiveram uma atitude exemplar. Comprometidos com a saúde pública realizaram conjuntamente ainda em abril de 2020 uma das primeiras ações de conscientização sobre a pandemia, o Festival FICO EM CASA BR, que reuniu centenas de artistas, jornalistas e influencers culturais.
A partir daí se reorganizaram nacionalmente com a ABRAFIN – Associação Brasileira de Festivais – e foram base de sustentação para toda a luta política pela aprovação e posterior execução da Aldir Blanc, assim como na denúncia ao ataque sofrido pela cultura durante este governo. Reinventaram-se em formato e novas ações digitais e diálogos institucionais. Com representatividade e diversidade, a ABRAFIN é novamente uma das entidades mais ativas da música brasileira.
Por isso, neste mês de janeiro, mais uma vez, produtores e artistas não têm se omitido e colocam sua atividade em segundo plano, em nome de um dever cidadão. Cancelam seus eventos, respeitam decretos, mesmo sabendo que isso pode ser fatal para seu empreendimento.
Mas agora, diferente do início da pandemia, esta não deve ser a única atitude possível. Ou pelo menos esta não deve ser a única forma da sociedade avaliar os artistas e produtores. É preciso ampliar a discussão e a busca de alternativas, e principalmente, mudar o julgamento e a cobrança sobre este setor que já foi tão duramente atingido e atacado.
A decisão de manter o evento ou cancelar deve caber aos produtores e artistas, a partir da análise do seu contexto específico. Das condições para execução, da empatia e disposição do público em participar, das normas locais e estaduais para a realização, e da análise dos riscos reais de contágio e a capacidade de implementar protocolos seguros. Cada um sabe onde o calo aperta, e antes de julgar, é preciso que as decisões tomadas sejam respeitadas e compreendidas, desde que sustentadas por estes critérios elencados.
Mas para além de esperar uma mudança de julgamento, o setor cultural também deve se organizar. A cultura se transformou em espaço fundamental da luta política neste século XXI. Sua dimensão extrapola a esfera das políticas setoriais, invadindo o centro político e econômico, e sendo a referência para os principais debates públicos contemporâneos.
A ABRAFIN assumiu este desafio. Nesta quinta-feira (20/01), às 19h, vai realizar um grande encontro dos festivais filiados para debater o seu posicionamento coletivo diante da nova onda de Covid-19 e do contexto político brasileiro em 2022. É fundamental que cada segmento e atividade artística busque fazer o mesmo. Comprometer-se com a sua organização e com uma agenda parlamentar que tem duas leis fundamentais para o setor em tramitação: A Lei Paulo Gustavo e a Lei Aldir Blanc 2. A aprovação delas é necessária para que milhões de artistas e produtores sobrevivam em 2022.
O momento exige unidade e coragem de defender os pontos fundamentais para a cultura em 2022. E não está difícil. Queremos:
Vacina para todes!
Passaporte vacinal em todas as atividades!
Aprovação das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2!
Fora Bolsonaro e Lula Presidente!
O resto a gente pode discutir em 2023.