De proibido a medalhista em Olimpíadas: um histórico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino
Detentora de títulos e medalhas de torneios importantes, maior artilheira da história das Olimpíadas. Motivos não faltam para se orgulhar da Seleção Feminina de Futebol.
Detentora de títulos e medalhas de torneios importantes, maior artilheira da história das Olimpíadas, detém a maior jogadora de futebol de todos os tempos, isso tudo com muito pouco ou nenhum investimento, oriundo tanto de iniciativas privadas, quanto do Governo. Motivos não faltam para se orgulhar da Seleção Feminina de Futebol.
Uma prova da atual relevância do esporte, é que a Rede Globo registrou um aumento de 80% da audiência em todo país com a transmissão de Brasil x Holanda. Se hoje o futebol feminino é bem visto, no passado não era bem assim.
A prática de futebol por mulheres foi proibida na década de 40 – decorrente da revolta e pressão de uma parcela da sociedade com jogos disputados no Pacaembu, em São Paulo – e ratificada em 1965. Somente em 1979, 38 anos após a proibição, às mulheres puderam voltar a chutar uma bola, sem ser de forma clandestina e sem correr o risco de serem denunciadas.
Talvez a década de 90 tenha sido a mais importante para o progresso do futebol feminino. Foi a partir dela que iniciou torneios do esporte e começou a montar as seleções de cada país. Em 1990 a FIFA realizou na China, um torneio experimental, nele as brasileiras ficaram em terceiro lugar.
Por Matheus Victor para a Cobertura Colaborativa da NINJA Esporte Clube
Já no ano seguinte, ocorreu a primeira Copa do Mundo de Futebol Femino, a base daquela seleção, eram as jogadoras que tinham disputado o torneio experimental. Infelizmente, as meninas não passaram da primeira fase do torneio.
Já em 1996, aconteceu a inserção do futebol feminino nas Olimpíadas, a seleção viajou até Atlanta, sede do torneio e acabaram ficando com a quarta colocação, por pouco não garantiram a medalha de bronze.
Desde então, a Seleção Feminina figurou em todas as outras edições de Olimpíadas, que ocorreram após a de 1996 e conquistando tradição dentro do evento.
Em nova viagem aos Estados Unidos, desta vez para a disputa da Copa do Mundo, as guerreiras brasileiras se superam. Com um time formado por veteranas, que deram os primeiros passos da camisa verde e amarela na modalidade e, com uma nova geração talentosa que surgia, o Brasil conquistou a medalha de bronze, sua primeira medalha FIFA.
No ano seguinte, o Brasil volta a disputar as Olímpiadas, desta vez em Sidney, na Austrália. Novamente nossas meninas ficaram entre as 4 melhores da competição entre as 8 equipes que disputavam. O sonho do ouro foi interrompido na semifinal, quando os EUA imputaram a derrota. Já no jogo que valia a 3ª colocação, as brasileiras perderam para as alemãs. Um dos destaques dessa edição, ficou por conta da Seleção Nigeriana, que apesar de terem sido eliminadas ainda na fase de grupo, se tornaram a primeira seleção feminina de futebol do continente africano a disputar uma Olimpíadas.
Enfim a medalha Olímpica! No ano de 2004, o Brasil já contava com Marta e Cristiane no elenco e foi até a Grécia, onde conseguiu a medalha de prata, perdendo a final para as norte-americanas, uma pedra no sapato das brasileiras.
Enquanto a nova geração de jogadoras davam esperanças de um futuro de sucesso para nossa seleção, em contrapartida, no Brasil nenhum campeonato se sustentava. Apesar do sucesso das brasileiras em competições internacionais, a nível nacional, o futebol feminino não progredia.
O futebol do Brasil seguia em evolução, no ano de 2007 foi a vez de nós sermos anfitriões dos jogos Pan-americanos, e dentro de casa conquistar o torneio, em cima daquelas que talvez sejam nosso maior algoz. O Brasil goleia o EUA, que nessa ocasião não estava com o time principal.
Meses adiante, a seleção vai para mais uma disputa de Copa Do Mundo, no torneio disputado na China, as nossas meninas ficaram em segundo lugar. Em uma foto tirada após receberem a medalha de prata, a seleção aparece com um cartaz que dizia “BRASIL, precisamos de apoio!”. Neste mesmo ano, nossa rainha, conquistava a Bola de Ouro da Fifa, era a segunda vez que Marta ganhava o prêmio.
No ano seguinte, em nova Olimpíadas, o Brasil bate na trave novamente e conquista mais uma medalha de prata. Novamente a seleção dos EUA derrotaram as nossas guerreiras tupiniquim. Nessa ocasião, a atual técnica do Brasil, Pia Sundhage treinava as estadunidenses.
Desde então o Brasil não subiu mais ao pódio de alguma Olímpiadas. Após 2008 ocorreram mais duas edições do evento, 2012 e 2016. Em 2012 nos jogos de Londres, o Brasil teve seu pior desempenho em uma Olimpíadas. As craques brasileiras foram eliminadas logo nas quartas de final, perdendo por 2×0 para a seleção japonesa.
Voltando a disputar um torneio em casa, a seleção iniciou os jogos olímpicos a todo vapor, a expectativa que era grande só aumentou com término da fase de grupos e a classificação das brasileiras. Esperava-se que ao menos uma medalha fosse conquistada por nossas jogadoras, mas infelizmente as guerreiras ficaram mais uma vez fora do pódio.
Em 2017, as coisas começaram a melhorar para o futebol sul-americano, sobretudo para o brasileiro. A Conmebol tinha criado uma obrigatoriedade onde clubes que queriam disputar a Libertadores, principal torneio do continente, teriam que contar com times de futebol feminino, pelo menos a partir de 2019. Na época grandes clubes como Santos, já tinham seu time feminino, mas outros não. Isso fez com que o futebol feminino crescesse no país.
Com isso, foi criado mais uma divisão do campeonato brasilero de futebol feminino, a série A-2. Com mais adesões de equipes ao futebol feminino nos anos posteriores, a CBF decidiu criar em 2022, ano que vem, mais uma divisão para o torneio nacional.
Em 2019 o Brasil disputou mais uma Copa do Mundo, não conseguindo passar das oitavas de final. Nossas meninas foram eliminadas pela França por 2×1, nas prorrogação. O gol brasileiro foi marcado por Thaisa.
A melhora da estrutura nos clubes e torneios brasileiros favoreceram o surgimento de novos talentos e consequentemente, deu um maior leque de opções para que treinasse a seleção. Para os jogos olímpicos de 2020, que estão sendo disputados em 2021 devido pandemia, das 22 convocadas por Pia, 11 atuam no Brasil.
Apesar de ainda ter todo apoio que precisam, o futebol feminino no Brasil evolui, e traz esperança que novos ventos possam surgir. O próximo capítulo escrito por nossas guerreiras será agora, em Tóquio. Mais uma vez nossas meninas tem tudo para conquistar mais uma medalha para o Brasil, que dessa vez venha o tão sonhado e inédito ouro.