As possibilidades de sonhos para mulheres negras: Djamila Ribeiro no Roda Viva
Se minha avó Vera Lúcia fosse viva, ontem dia 09 de novembro, ela estaria completando 71 anos. Para mim, é muito simbólico o aniversário da minha avó materna acontecer no mesmo dia do programa Roda Viva com a Djamila Ribeiro.
Se minha avó Vera Lúcia fosse viva, ontem dia 09 de novembro, ela estaria completando 71 anos. Para mim, é muito simbólico o aniversário da minha avó materna acontecer no mesmo dia do programa Roda Viva com a Djamila Ribeiro.
Uma das primeiras lembranças com ela é da leitura de um livro infantil que não consigo lembrar o nome agora, mas essa é uma memória forte. Minha avó era uma mulher branca pobre, nascida e criada em Vigário Geral, um bairro pobre da capital do Rio de Janeiro.
Minha avó lutou para me oferecer outras possibilidades de existência, além daqueles lugares de subalternidade que o racismo estrutural constrói para mulheres negras. Ela me dizia para nunca deixar de estudar e me trazia livros sempre que possível. Infelizmente, minha avó só conseguiu fazer até o Ensino Fundamental porque na época dela (na década de 50 +-) o Ensino Médio só existia nas escola privadas e a família dela não tinha dinheiro para pagar um ensino privado. Ela foi uma das primeiras feministas com quem tive contato na vida.
Em 2017, conheci o trabalho da Djamila Ribeiro com o livro “O que é Lugar de Fala?” e por causa dele, pela primeira vez na vida, pude me enxergar dentro de uma universidade cursando mestrado. Antes disso, sempre achei que esse lugar de “Pesquisadora” não era para mim. A linguagem didática e as referências a outros intelectuais negros e negras, criaram novas possibilidades de horizontes de existência para mim. Em 2019, consegui entrar no mestrado de Políticas Públicas em Direitos Humanos- NEPP/DH da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A Djamila e minha avó são duas mulheres que nunca se conheceram na vida e não sabem da existência uma da outra, mas são grandes referências para mim, são mulheres que me inspiram a nunca parar de estudar e a questionar todas as estruturas da sociedade.
Poder assistir hoje a Djamila Ribeiro no Roda Viva, fazendo referência a mãe e avó dela, as intelectuais negras como Lelía Gonzalez, Luiza Bairros e Audre Lorde, debatendo projetos políticos do feminismo negro, falando de Eleições Municipais e democratização da comunicação/educação, entre outros assuntos importantes, abre inúmeras possibildades de existência para alguém como eu e provavelmente outras mulheres negras por aí.
Por mais pessoas negras como sujeitos políticos, ocupando os espaços de decisão de poder, construindo Políticas Públicas, rompendo com os lugares de subalternidade e construindo novas possibilidades de existência! Principalmente as mulheres negras.
Agradeço a minha avó Vera Lúcia, a Djamila Ribeiro e a todas as mulheres que vieram antes de mim. Até a próxima.
Deixo aqui o link do Roda Viva com a Djamila para quem quiser assistir: