A Revolução Solidária com Boulos e Erundina enfrenta o Estado policial de Bolsonaro
O nível da perseguição a lideranças políticas, como Guilherme Boulos, aumenta nas eleições porque são essas figuras que representam movimentações por baixo da sociedade que são o pesadelo do bolsonarismo.
Na última semana, o ministro da Justiça do governo Bolsonaro, André Mendonça, atendeu a um pedido de investigação feito pelo deputado do governo, José Medeiros (Podemos-MT). A seu mando, a Polícia Federal passou a apurar crimes supostamente cometidos por Guilherme Boulos em posts seus contra Bolsonaro nas redes sociais em abril. O mesmo deputado governista apresentou pedidos similares ao GSI de Augusto Heleno e ao Procurador Geral da República, Augusto Aras. Além dessa denúncia, Medeiros fez outra representação também acusando Boulos, os deputados federais do PSOL, Sâmia Bomfim e Glauber Braga, e o youtuber Felipe Neto, pela participação nos atos antifascistas no mês de maio.
As acusações se baseiam nos crimes de “subversão da ordem política ou social” e incitação da “luta com violência entre as classes sociais”, previstos na Lei de Segurança Nacional, editada durante a ditadura civil-militar. A Lei de Segurança Nacional, à época em que foi criada, era uma resposta a uma das maiores ondas de greves operárias na história do Brasil, no final dos anos 70. Hoje, é a arma preferida de Bolsonaro para perseguir inimigos políticos que o enfrentam publicamente com independência e radicalidade, e que ganham a audiência de muita gente que odeia o projeto bolsonarista para o Brasil.
Também nos últimos dias, Talíria Petrone, deputada federal do PSOL, apresentou à Organização das Nações Unidas cinco registros de áudio com conteúdo de planos para o seu assassinato, levantados pelo Disque Denúncia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, denunciando o governo brasileiro por omissão na proteção de parlamentares, particularmente mulheres negras de oposição, que têm suas vidas e as de seus familiares ameaçadas e que podem ser violentamente assassinadas por organizações paramilitares, como a companheira Marielle Franco.
Ainda no final de agosto, foi revelado pela imprensa um dossiê do Ministério da Justiça com 579 nomes de servidores públicos que foram espionados pela Polícia Federal, sob pretexto de se tratarem de “indivíduos antifascistas”. Poderíamos mencionar muitos outros fatos recentes envolvendo o uso pelo governo e suas organizações clandestinas dos aparelhos federais. A arapongagem e o terrorismo de Estado dos anos de chumbo seguem vivos como nunca na nossa democracia incompleta e hoje controlada por um fanático do AI-5.
Esse cheiro mórbido que o bolsonarismo exala será sentido pelos paulistanos na campanha de Russomano à prefeitura, um oportunista apadrinhado pelo malufismo rebento da ditadura. Ele vai defender uma resposta policial para todos os conflitos sociais da cidade e uma “avaliação de consumidor” sobre os serviços públicos, culpabilizando os servidores da saúde e da educação em vez de falar em mais investimento nessas áreas essenciais, numa abordagem nitidamente privatista.
Outro representante da extrema direita nas eleições paulistanas é Arthur Do Val, o Mamãe Falei, que quer surfar na onda do aumento de popularidade da candidatura de Guilherme Boulos e Luiza Erundina para estabelecer alguma polarização com a chapa do PSOL, grande fato do pleito este ano. Reproduzindo sua linguagem desqualificada para ganhar seguidores na internet, o youtuber do Patriotas curiosamente sabia de uma operação de repressão da Guarda Civil à população de rua na região da Cracolândia e gravou vários vídeos presenciais no dia, defendendo a expulsão violenta da população de rua. Ainda em seu apelo de ódio, denunciou o padre Júlio Lancelotti, grande figura aliada à população em situação de rua na capital, por suas ações de solidariedade. Na mesma semana, o padre foi ameaçado por motoqueiros que passaram na região onde ele distribuía cestas básicas. Ele também declarou que vem subindo o número, nas últimas semanas, de ameaças de morte que recebe.
O nível da perseguição a lideranças políticas, como Guilherme Boulos, aumenta nas eleições porque são essas figuras que representam movimentações por baixo da sociedade que são o pesadelo do bolsonarismo. Hoje, essa representação pode ocupar um espaço inédito nas urnas eleitorais, expressão da esperança e ânimo de milhares de ativistas e coletivos com esta que é a maior e mais radical alternativa de esquerda nestas eleições municipais.
Fazer dessa experiência algo vitorioso e inédito na cidade fortalece a organização da luta nas ruas, nos bairros, nas escolas, nos locais de trabalho. Enquanto Bolsonaro nos oferece a morte (e foram tantas, cada uma delas parte de um enorme luto), Boulos e Erundina nos oferecem uma revolução solidária. É a luta da vida contra a morte. Da liberdade contra o terrorismo de Estado. É o encontro de um povo sem medo com a história. Só esse encontro pode virar a página do bolsonarismo.