A quadrilha do Crivella
É curioso que os milionários templos da Igreja Universal do Reino de Deus possuam também a figura dos “guardiões”.
Quadrilha é a associação de três ou mais pessoas para o fim de cometer crimes (artigo 288 do Código Penal). Mais de 15 pessoas fazem parte do bando do Crivella. Elas recebem vantagem indevida para infringir dever funcional, crime de corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal), praticando “ato de ofício” contra disposição expressa em lei, cedendo a influência do prefeito para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, uma forma de prevaricação (artigo 319 do Código Penal).
A finalidade da quadrilha era manter um esquema de plantão às portas dos hospitais públicos para atrapalhar jornalistas e impedir a população de denunciar aos repórteres as péssimas condições da saúde pública.
O bispo Edir Macedo, irmão da mãe do prefeito Marcelo Crivella, é o fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus (I. U. R. D.). O prefeito apropriou-se indebitamente e desviou um tomógrafo da Rocinha para a Igreja Universal do Reino de Deus (artigo 168 do Código Penal). Tomógrafo é o aparelho que serve para realizar diagnósticos por imagem em todo o corpo, detectando e localizando, por exemplo, a presença de tumores, câncer, embolia pulmonar, pneumonia, aneurismas, edemas, derrames, fraturas, hemorragias, acidente vascular cerebral (AVC), dentre inúmeras outras doenças e afecções de todo o corpo.
Como se não bastasse tamanho crime contra a vida e o patrimônio, o prefeito é de um cinismo impressionante. Após as ameaças (artigo 147 do Código Penal) e o constrangimento ilegal de pessoas com grave ameaça a não fazer o que a lei permite (art. 146 do Código Penal), no caso em tela, dar entrevistas a jornalistas, a Prefeitura ainda publica uma nota oficial completamente cretina: alega que esses “funcionários” – denominados “guardiões” em suas conversas – estão ali para “melhor informar a população”, “evitar riscos à saúde devido à Covid-19″, enfim, “reforçar o atendimento”. Uma doença que já matou cerca de 10 mil pessoas na cidade é usada como álibi para justificar o injustificável.
Além das provas filmadas e áudios gravados, o antigo telefone do prefeito está no grupo de Whatsapp desses “guardiões”. É curioso que os milionários templos da Igreja Universal do Reino de Deus possuam também a figura dos “guardiões”.
Quantos cinemas, que traziam diversão, cultura e grande arrecadação tributária, com o recolhimento de IPTU e ISS, perdemos para a I.U.R.D., com sua imunidade tributária, recordando que é vedado à União, aos Estados e aos Municípios instituir impostos sobre templos de qualquer culto (artigo 150, inciso VI, letra “b”, da Constituição Federal)?
O Código Penal, por sua vez, no artigo 288, reduziu, para a formação de quadrilha, o mínimo de quatro pessoas para três. Como temos três governantes que rezam na mesma cartilha, praticantes das mesmas políticas, podemos dizer que a maior quadrilha de três do Brasil está formada no Rio de Janeiro: Bolsonaro, Witzel e Crivella!
Rio de Janeiro, 2 de setembro de 2020