Não seria de todo absurdo afirmar que a sociedade brasileira foi construída à parte da nação brasileira quando pensamos na exclusão de enormes contingentes populacionais da plenitude da vida cidadã, isto é, na garantia de direitos e deveres preconizados na Constituição Federal ao povo brasileiro. De natureza secular, o problema ganha dimensões ainda mais nefastas diante o caos instalado pela pandemia do novo Coronavírus que se espalhou pelo Brasil.

Para constatar tal situação, basta estendermos nosso olhar para o avanço da epidemia nos grandes centros urbanos e interior do país, com consequências aterradoras para a população mais carente, já privada de serviços públicos essenciais. Dentro desta categoria social, um segmento em especial é duramente atingido: a nossa juventude.

Embora a taxa de mortalidade da Covid-19 entre a população jovem seja ligeiramente inferior àquela verificada entre pessoas de maior faixa etária, não se pode dizer que a juventude está imune aos problemas sociais potencializados pela pandemia. Para ela, a letalidade do Coronavírus se traduz em diminuição de oportunidades e incertezas frente o amanhã.

Muitas das ferramentas para impedir a implosão do futuro da nossa juventude estão em nossas mãos, bastando vontade política para colocar mudanças em prática. A maneira mais fácil, talvez, seja pelo acesso à educação pública de qualidade. Outra forma de garantir condições de sobrevivência para os nossos jovens é pela expansão do Sistema Único de Saúde. Afinal, fortalecer a educação pública e o SUS é garantir direitos para a população.

Infelizmente, o que vemos é um movimento contrário do governo federal nesta direção. Na educação, além do fim de diversos programas de fomento ao ensino e capacitação, ainda precisamos conviver com o descaso do governo em relação ao Fundeb, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação básica, cuja vigência acaba este ano.

Alheio ao problema, o governo federal não se envolveu nas discussões que atualmente ocorrem no Congresso Nacional com vistas a tornar o fundo permanente.

No que diz respeito ao SUS, até a chegada da pandemia ao Brasil o que se via era o abandono de políticas públicas fundamentais para garantir o bem estar da população. Programas de saúde da família, por exemplo, foram deixados de lado, o que em muito pode ter contribuído para a rápida disseminação do Coronavírus pelo País e as mortes a ele associadas.

A chegada de uma epidemia mortífera evidenciou a importância fundamental que o SUS tem para a sociedade brasileira na garantia da qualidade de vida da nossa população.

Como podemos perceber nesses dois simples exemplos, as grandes transformações que precisamos não estão tão distantes assim. Nós possuímos os meios necessários para enfrentar as imensas contradições que impedem o crescimento do País. O que falta é vontade política.

Nossas dimensões continentais e população multiétnica não devem ser vistos como empecilhos para a universalização de direitos, mas sim como o terreno para a fundação de uma sociedade plural e inclusiva, afinada ao multiculturalismo e diversidade humana que nos constituem enquanto nação, colocando-nos na vanguarda do século XXI.

O Brasil, gestado no ventre indígena e nascido das fronteiras da Europa e da África, possui cultura híbrida e todos estes agrupamentos humanos fazem parte da identidade brasileira.

Ao longo de nossa história, foram criados mecanismos de exploração e segregação de brasileiros com o apoio do aparelho estatal, muitas vezes mero instrumento dos interesses predatórios das elites. Reparar injustiças históricas é um imperativo ético e moral dos nossos tempos.

A epidemia nos impõe a responsabilidade histórica de construir esperanças para o futuro e, neste sentido, o papel desempenhado pela juventude no debate político ocupa lugar central, sendo a sua representatividade e protagonismo elos vitais na cadeia de debates, formulação e implementação de politicas públicas no pós-pandemia. Com população predominantemente jovem, o Brasil pode emergir como nação modelo em um mundo vacinado contra a Covid-19.