O mito se desmancha
Foi divulgada, na semana passada, mais uma rodada da pesquisa de opinião pública realizada pela XP/IPESPE sobre a avaliação do governo pelos brasileiros. 50% dos entrevistados o consideram ruim ou péssimo e 25% como bom ou ótimo. 22% o vêem como regular. É o pior resultado para o governo desde a posse de Jair Bolsonaro como presidente.
Foi divulgada, na semana passada, mais uma rodada da pesquisa de opinião pública realizada pela XP/IPESPE sobre a avaliação do governo pelos brasileiros. Como se vê no gráfico acima, 50% dos entrevistados o consideram ruim ou péssimo e 25% como bom ou ótimo. 22% o vêem como regular. É o pior resultado para o governo desde a posse de Jair Bolsonaro como presidente.
Mais importante que os números absolutos, a pesquisa confirma a tendência de perda de apoio da atual gestão. O encanto inicial da maioria da população com o presidente então eleito se desfez rapidamente e, em maio de 2019, já havia mais gente achando ruim do que bom o seu desempenho. Pode-se dizer, em linhas gerais que desde então e até janeiro de 2020, manteve-se certo equilíbrio entre os três blocos que avaliam o governo como regular, bom ou mau. E de fevereiro a maio, a partir da chegada ao Brasil da pandemia do coronavírus, foi se abrindo um fosso, agora já enorme, com o dobro de avaliações negativas em comparação com as positivas.
Podemos até fazer um raciocínio pelo avesso e nos perguntarmos, como ainda existe 1 em cada 4 brasileiros que avaliam bem um governo tão caótico e escatológico, e mais 1 vacilando na marca do pênalti. Porém a análise de outros dados complementares indicam que o isolamento do governo vai se agravar: 57% acham que a economia vem sendo mal conduzida e 58% avaliam mal o desempenho pessoal do presidente no enfrentamento da crise.
Fato é que a erosão na base de apoio do presidente é grave e persistente, apesar de manter um núcleo resiliente, catalisado pelas redes sociais, alguns segmentos evangélicos e grupos radicais. Vários outros eventos refletem essa erosão: a multiplicação de dissidências políticas, a redução de participantes nas carreatas golpistas do presidente e a contaminação de muitos auxiliares e apoiadores. O exército de robôs virtuais do “gabinete do ódio” não consegue se contrapor ao turbilhão de informações negativas, embora ainda se preste a destruir a reputação de ex-ministros e colaboradores, ajudando a sangrar ainda mais o governo.
Ademais da múltipla crise sanitária, política e econômica que assola a nação, formou-se um redemoinho de retroalimentação negativa entre a loucura do presidente, a entropia do governo e a erosão de apoio popular. O presidente só protagoniza conflitos em série, os ministérios não têm rumo e funcionam mal, o povo sofre e a popularidade se esvai, enlouquecendo-o mais e mais.