A despeito dos xingamentos, palavras de baixo calão, quebra de decoro e comprovação sobre se o presidente da República interferiu politicamente ou não na Polícia Federal, para proteger seus filhos, familiares e amigos, há um outro aspecto que chama a atenção no vídeo e respectiva degravação de áudio da fatídica reunião ministerial de 22/04/2020.

As falas bizarras do presidente e sua gangue foram como música para os ouvidos dos bolsonaristas. Teve de tudo o que eles adoram ali. Mas, nem todo eleitor de Bolsonaro é bolsonarista ou se converteu ao bolsonarismo. Ele fala, cada vez mais, para o seu séquito de seguidores fanáticos e este, por sua vez, vai diminuindo, lentamente, a cada dia. Esse movimento está refletido na série histórica das diferentes pesquisas de opinião pública acerca da popularidade e aprovação, do presidente e de seu governo.

Não nos enganemos jamais: quando o presidente fala em “liberdade de expressão” está a falar da liberdade – que não lhe é conferida em sua plenitude – para defender armamento, para advogar teses e posturas machistas, homofóbicas, misóginas, de extermínio de quem considera seus adversários, para ficar livre para distribuir fake news por intermédio do “Gabinete do Ódio” sem embaraço do Poder Judiciário, da imprensa e da oposição e até para se sentir à vontade para furar o isolamento social sem que, por isso, venha a ser criticado… É dessa “liberdade” enviesada, de poder defender o errado, o grotesco e o que está à margem da lei – coisas que lhe são caras – que ele está a se referir.

Da mesma forma, quando ele fala em “armar o povo” para que este defenda possíveis investidas contra o Estado Democrático de Direito e as liberdades individuais, hipótese que ele ventila como provável em virtude da elevação da insatisfação popular, decorrente da aguda crise econômica que se sucederá à pandemia, está a falar de armar as milícias para defender o seu governo, o seu ponto de vista, o seu mandato e não o regime/sistema democrático em si.

Ademais, as falas de Weintraub, Salles, Damares e Guedes constituem, senão crimes, contravenções. Deveriam ser objeto de inquérito, ação penal e posterior julgamento, com possível condenação.

A omissão sobre o tema mais importante do momento – o controle e enfrentamento à pandemia do novo coronavírus – também se destaca, negativamente, em meio a confusão de declarações desconexas e sem propósito de um conjunto de ministros perdidos, sem qualquer espécie de ação coordenada e carentes de liderança.

A reunião pode ter agradado aos “bolsominions”, “cloroquiners” e “hemorróiders”. Mas, foi uma demonstração cabal da incapacidade dessa equipe em gerir uma crise, administrar o governo e conduzir o Brasil rumo a um porto seguro, pós-pandemia.