Direto do confinamento: Bolsonaro contra o mundo
Nunca antes na história desse país houve um presidente tão queimado na opinião pública internacional. Sua fobia bélica contra os direitos humanos e a defesa da tortura e da ditadura militar o conectam com o que há de pior na história das civilizações. O que ele despreza, constitui um valor inegociável para povos, países e pessoas que já foram vítimas da violência.
Nunca antes na história desse país houve um presidente tão queimado na opinião pública internacional. Sua fobia bélica contra os direitos humanos e a defesa da tortura e da ditadura militar o conectam com o que há de pior na história das civilizações. O que ele despreza, constitui um valor inegociável para povos, países e pessoas que já foram vítimas da violência.
Bolsonaro se recusa a entender a natureza da crise ambiental e climática, que ele considera uma farsa. Nomeou um sub-ministro, Ricardo Sales, para um sub-ministério do meio ambiente. Abriu guerra contra cientistas, ambientalistas, índios e todos quantos lhe pareçam conspirar contra a sua visão de país. Desconstruiu leis, órgãos e políticas de defesa do meio ambiente, e o desmatamento na Amazônia saltou 30% no seu governo.
Bolsonaro já vinha barbarizando na política externa e escolheu um chanceler obscuro, Ernesto Araújo, indicado pelo filho Eduardo sob os auspícios de Olavo de Carvalho. O ministro defende teses exóticas, que vão da planura da Terra ao nazismo como movimento de esquerda, passando pelo ceticismo climático ignorante total. Foi chamado de “idiota” pela Rede Bandeirantes.
Com o desmatamento e as queimadas explodindo e sem ministros críveis, Bolsonaro ficou nu perante o mundo. Passou a detonar de forma boçal outros chefes de estado e o trabalho dos organismos multilaterais. Sua diplomacia se confinou se a pessoas – e não países – com que ele guarda identidade, como Netanyahu e Trump. Mas para o mundo inteiro ficou demonstrado que a retórica acusatória do presidente do Brasil era uma cortina de fumaça para dissimular a sua intenção predatória.
O isolamento presidencial foi ficando patético. Expressões da direita europeia, como Marie Le Pen, declararam discordar da postura predatória do Bolsonaro. Ele nem compareceu, mas o ministro da economia, Paulo Guedes, ficou isolado no encontro de Davos por conta da questão ambiental. A ratificação do acordo do Mercosul com a União Européia subiu no telhado.
Com o advento da pandemia do coronavírus a imagem do Bolsonaro se deteriorou ainda mais. Vinte e dois integrantes da sua comitiva para um encontro informal com Trump e empresários na Flórida testaram positivo, num intercâmbio virótico do mais alto nível. Não obstante e prá lá de abundante, Eduardo Bolsonaro endossou a acusação de que a pandemia é uma armação do governo chinês, gerando uma crise diplomática com o nosso principal parceiro comercial.
Ainda assim, surpreendeu de forma negativa a atitude agressiva e irresponsável do Bolsonaro diante da epidemia, ao boicotar ativamente a orientação de isolamento dada pelas autoridades sanitárias à população. Em vez de – pelo menos tentar – liderar o país no enfrentamento da crise, Bolsonaro afronta o próprio enfrentamento. Ataca governadores e prefeitos, dirigentes do Congresso, epidemiologistas e jornalistas, defendendo a prevalência da atividade econômica sobre a redução do número de vítimas.
Bolsonaro contraria o ministro da saúde, não aceita o conselho dos militares para não subestimar a crise e só ouve os filhos e os empresários gananciosos que bancam suas aventuras políticas mais suspeitas. Bolsonaro se isolou do mundo, incluído o Brasil nele. As fronteiras são tênues.