E o pessoal dos Direitos Humanos?
A defesa dos direitos humanos, em um momento de polarização política, transita entre indiferença e o ódio por parte da humanidade. Essa relação fica explícita quando, diante de barbáries, questiona-se: E o pessoal dos direitos humanos? Esses defensores de direitos humanos só defendem bandidos.
A defesa dos direitos humanos, em um momento de polarização política, transita entre indiferença e o ódio por parte da humanidade. Essa relação fica explícita quando, diante de barbáries, questiona-se: E o pessoal dos direitos humanos? Esses defensores de direitos humanos só defendem bandidos.
Em uma sociedade desigual como a nossa, o “bandido” é aquele que deve ser execrado, e levar até um tiro na “cabecinha” por não se ajustar às normas sociais. Em especial, aquele ser humano que não vende ou não tem quem compre a sua força de trabalho. Seu corpo é a sua moeda de troca. E sua existência é desumanizada.
Eis o nosso problema: uma racionalidade em curso, que generaliza a competição e naturaliza a desigualdade nos valores supremos de uma forma social, a própria expressão da barbárie. Diante disso, como tornar a promoção dos direitos humanos em um objetivo político concreto, quando a lógica do mercado abarca todos os âmbitos da existência? Qual o lugar do humano, numa sociedade onde tudo está passível de se transformar em mercadoria?
A sociedade neoliberal implica uma forma de subjetividade refratária à dignidade humana, e, por isso, extremamente perigosa. A adoção da competitividade como norma de vida solapa a fraternidade e a compaixão, universalizando a “guerra” como referencial. Mesmo porque a “guerra” torna-se um mercado promissor, é o lucro em detrimento da vida. A Necropolítica como essência, como um grande negócio.
A tarefa de construção de uma democracia substancial passa por repensar radicalmente a ideia-força da dignidade humana, incorporando a defesa e a promoção dos direitos humanos como fundamento da comunidade política. Isso passa, necessariamente, pelas políticas de gênero e de raça, que supere as desigualdades de classes. Precisamos de uma nova linguagem para falar de direitos humanos, e métodos menos arcaicos de praticar e exercer a nossa humanidade. Não há “dignidade do eu” desconsiderando o fato de que o eu é relação. É na igualdade inegociável que precisamos ancorar a ideia de dignidade humana, como expressão do ser e estar no mundo. A filosofia africana é sábia e aponta caminhos na encruzilhada: Ubuntu – eu sou porque nós somos.