Hey branquitude, o que você está fazendo para acabar com o racismo que você mesma criou?
É preciso entender o racismo como um sistema estrutural de opressão e não apenas atos individuais.Além disso, não basta apenas não ser racista, é preciso ser e ter práticas antirracista, não contribuindo para o racismo por omissão.
Por Ana Claudino*
“O racismo “ à brasileira” se volta justamente contra aqueles que são testemunho vivo da mesma (os negros), ao mesmo tempo que diz não o fazer ( “democracia racial” brasileira).”
Lélia Gonzalez- A Categoria Político-Cultural da Amefricanidade (1988)
Inúmeras vezes, pessoas brancas me perguntaram como elas poderiam contribuir com os movimentos negros na luta contra o racismo ou me falaram que não “se metem” nessas discussões por não ser o lugar de fala deles, inclusive usando o conceito de forma errada.
Ao mesmo tempo, companheiras e companheiros negros relatam não aguentar mais serem usados como “wikipretos” pela branquitude que se nega ir estudar por conta própria sobre relações raciais e suas consequências.
Dos textões da internet sobre apropriação cultural aos debates sobre cotas raciais, é possível perceber a desinformação de determinadas pessoas brancas sobre a negritude e as consequências da opressão racial. O racismo foi criado pela branquitude (alô Europeus Colonizadores) durante a idade moderna no contexto da invasão(colonização) dos países da América Latina.
Quando os invasores brancos europeus começaram a ter contato com os povos originários (povos indígenas) e as pessoas negras escravizadas, a categoria raça foi criada como ferramenta de dominação, definindo a cultura branca européia colonizadora como superior e tudo o que não era semelhante a eles como inferior. A nossa sociedade atual tem raízes coloniais, racistas e sexistas.
É preciso entender o racismo como um sistema estrutural de opressão e não apenas atos individuais.Além disso, não basta apenas não ser racista, é preciso ser e ter práticas antirracista, não contribuindo para o racismo por omissão. Assumir a responsabilidade enquanto pessoa branca na luta antirracista.
A intelectual negra Djamila Ribeiro, mestre em filosofia política e coordenadora da coleção Feminismos Plurais, lançou recentemente o livro “Pequeno Manual Antirracista” com o objetivo de aprofundar a percepção sobre as discriminações estruturais, ampliando o debate sobre as questões raciais e colocando o antirracismo como uma luta de toda a sociedade, não apenas das pessoas negras.
“ Portanto, nunca entre numa discussão sobre racismo dizendo “mas eu não sou racista”.
O que está em questão não é um posicionamento moral, individual, mas um problema estrutural.” Djamila Ribeiro
De acordo com Djamila, pessoas brancas podem começar sua luta antirracista por:
Informe-se sobre o racismo
A naturalização do racismo é fruto do mito da democracia racial legitimado no início do século XX, criando a falsa ideologia da harmonia entre pessoas brancas e negras no Brasil. Algumas pessoas brancas ainda tem medo de falar sobre racismo ou nomeá-lo, mas o primeiro passo para combatê-lo é reconhecendo o racismo no cotidiano.
Enxergue a negritude
Uma das consequências do colonialismo ocorrido no Brasil é a criação da branquitude como sendo universal, colocando as pessoas negras e indígenas no lugar do “outro”. Esse reflexo colonial provoca a naturalização do racismo, apagamento e desumanização das pessoas negras. A branquitude precisa começar a pensar o seu lugar social e falar sobre o racismo a partir do seu lugar de fala enquanto brancos. Repare e questione a ausência de pessoas negras (principalmente em posições de poder) nos espaços que vocês estão.
Reconheça os privilégios da branquitude
De acordo com a intelectual negra Grada Kilomba, existem alguns estágios que pessoas brancas passam quando percebem a existência do racismo: negação, culpa, vergonha, reconhecimento e reparação. São as Fases do luto. Além disso, é muito importante discutir a branquitude e sua culpabilidade no racismo. Até porque o racismo foi criado pela branquitude e não pela negritude.Não basta apenas sentir culpa, é necessário agir!
Perceba o racismo internalizado em você
Ter amigos negros ou conviver com pessoas negras não te faz antirracista porque vivemos em uma sociedade onde o racismo é estrutural, logo a nossa socialização será baseada em comportamentos racistas. É preciso buscar novas formas de existir e de socializar no mundo, fazendo a autocrítica de atitudes racistas que possam acontecer.
Apoie políticas educacionais afirmativas
Por causa da colonização, criação da categoria raça como ferramenta de opressão e escravização dos povos africanos, as pessoas negras até hoje tem dificuldade de acesso à educação. A ideologia da meritocracia é uma falácia.
Transforme seu ambiente de trabalho
A população negra representa 56% da população brasileira de acordo com uma pesquisa do IBGE de 2018, somos mais da metade da população no país mas quantas pessoas negras ocupando cargos altos dentro de empresas vocês conhecem?
Além desses tópicos, Djamila traz outros como:leia autores negros, questione a cultura que você consome ,conheça seus desejos e afetos, combata a violência racial e termina convidando todo mundo para contribuir na luta antirracista! O que você pessoa branca está fazendo para enfrentar o racismo no seu dia a dia?
*Ana Claudino é pesquisadora, ciberativista, criadora do canal Sapatão Amiga e do podcast LesboSapiência.