Fortalecer a mídia negra é combater o racismo
A Mídia negra precisa ser fortalecida, e com ela o combate ao racismo. Alma Preta é uma dessas mídias, e é cada vez mais importante fortalecê-las como ferramentas nessa luta pela igualdade.
Qualquer campo político precisa de uma imprensa forte, com poder de influência e capilaridade para ter peso no país; para que isso ocorra, é fundamental que essa mídia seja apoiada e tenha estrutura para trabalhar
Não existe a possibilidade de mudança social, conquista de direitos ou mesmo de revolucionar a sociedade sem um movimento social forte. A conquista da força dentro da arena política, contudo, é complexa.
Alguns elementos que podem ajudar nesse processo são a capacidade de mobilização, a presença nas instituições e a participação nos veículos de comunicação. Essas são algumas das ferramentas que possibilitam a pressão social por garantia de direitos e mudanças estruturais.
Diante do atual cenário brasileiro, com 65.550 assassinatos em 2017, sendo desses 75,5% de negros, e uma população carcerária que ultrapassou a barreira das 800 mil, é necessário que exista um movimento negro forte para a garantia de direitos e a própria vida do povo preto no país.
Informação tem consequências na vida cotidiana
Ações estratégicas do movimento antirracista, por exemplo, permitiram que alguns pontos do pacote de segurança pública de Sérgio Moro fossem revogados, como o Plea Bargain. A proposta consistia na formulação de um acordo entre o Ministério Público, o acusado e o júri, sem a submissão de um processo penal. Na prática, seria o aumento do cárcere para a juventude negra.
A vitória sobre Sérgio Moro, contudo, também passa por outro elemento, fundamental para a luta nos dias de hoje: a mídia. Para atingir essa conquista, o setor antirracista no país também precisou de estratégias de comunicação para incidir no debate público. Esse é um dos casos em que o jornalismo do Alma Preta cumpriu seu papel.
Foram notícias, coberturas, entrevistas e inúmeros materiais publicados que evidenciaram a perversidade do projeto de segurança pública criado pelo atual Ministro da Justiça. Entre os materiais produzidos, o Alma Preta chegou a acompanhar o movimento negro em Kingston, Jamaica, e cobrir sessão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) sobre a proposta de Moro.
Voltou-se de lá com entrevistas e falas importantes das relatoras da CIDH, que denunciavam o caráter violento da proposta de Moro e foram utilizadas para agitação política e pressão social. Vitória para nós.
A assinatura é uma forma de participar desse processo
A campanha de assinaturas e financiamento do Alma Preta ajuda a ampliar esse trabalho, dando impulso ao debate racial e à denúncia da violência contra o povo negro no Brasil.
A existência de uma imprensa negra e independente fortalece uma esfera pública radical com capacidade de informar sobre o cotidiano a partir de um diferente olhar. Esse grupo de comunicadores, composto por negros, mulheres, lgbts, moradoradores das periferias, promove um tensionamento com a cobertura feita pela mídia hegemônica e também disputa a narrativa formulada pela imprensa branca e progressista.
É preciso fincar uma bandeira de que raça é um elemento que estrutura a sociedade e não pode ser esquecido, no primeiro caso, e/ou colocado na caixinha da diversidade, no segundo caso. A mídia negra, de maneira cotidiana, tem feito isso.
Fortalecer o Alma Preta e a sua campanha de assinaturas é denunciar a violência e a injustiça racial no Brasil. Apoiar esse trabalho jornalístico é alimentar a possibilidade de uma sociedade democrática, afinal jamais haverá qualquer chance de se construir uma país democrático sem uma imprensa negra forte e à altura da potência do povo preto.