80% dos brasileiros concordam com pressão de Lula pela queda dos juros, diz Datafolha
Entre os eleitores de Bolsonaro, a percepção é de que os juros estão mais altos do que o recomendado, destaca o Datafolha
Nos primeiros meses de seu terceiro mandato, o Presidente Luiz Inácio da Silva (PT) tem feito críticas severas ao Banco Central por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A atitude do Presidente tem recebido grande apoio da população brasileira. Uma pesquisa recente do Datafolha indicou que 80% dos brasileiros concordam com a pressão feita pelo Presidente.
Para 71% dos entrevistados, a taxa de juros no país está mais alta do que deveria. Dentre esses, 55% afirmaram que a Selic está significativamente mais alta do que deveria, enquanto apenas 16% consideram que está um pouco mais alta.
Apenas 16% dos eleitores entrevistados consideram que a atitude de Lula em criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL), é inadequada. Outros 5% não souberam responder.
Até mesmo entre os eleitores do PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, a percepção é de que os juros estão mais altos do que o recomendado: 77% dos entrevistados afirmaram pensar dessa forma. Entre as regiões do país, essa opinião só fica abaixo dos 70% no Nordeste (67%).
O Comitê de Política Monetária (Copom) mantém a Selic no atual patamar desde setembro de 2022, quando interrompeu um ciclo de 12 altas consecutivas. Roberto Campos Neto usa o argumento de que controlar a inflação e trazê-la para a meta são decisões técnicas baseadas nas expectativas de inflação futura.
No Congresso, cresce a pressão para que Campos Neto seja demitido do Banco Central, como publicou a NINJA.
Nobel de Economia apoia queda de juros no Brasil
Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia e professor da Universidade de Columbia, afirmou que o presidente Lula está correto sobre a necessidade de queda dos juros e que o Banco Central, sob comando do bolsonarista Roberto Campos Neto, está errado.
Stiglitz foi economista-chefe do Banco Mundial de 1997 a 2000. Em entrevista para a BBC, o nobel afirmou que os banco centrais erram quando decidem combater a inflação com elevação dos juros. Para Stiglitz, colocar o país em uma roda de recessão “para recuperar a credibilidade” é um equívoco, pois aumenta o custo e restringe a oferta de crédito, esfriando a economia para reduzir a inflação.
O resultado é um acúmulo de taxas sobre os mais pobres, que encarece o dia a dia e obriga a formulação de políticas compensatórias, como desoneração sob os ‘mais ricos’.
Ele avalia que os governos da região poderão ser bem sucedidos se conseguirem manter o foco no fato de que foram eleitos para criação de uma “prosperidade compartilhada”, isto é, um crescimento inclusivo, que garanta a melhora de vida da parcela mais pobre da população.
“Há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país. Então o presidente Lula está absolutamente correto em estar preocupado com essas questões”, diz Stiglitz à BBC News Brasil.