7 dias de lixo | Artista fotografa famílias com seu próprio lixo e provoca debate sobre consumo
Projeto “Seven Days of Garbage”, do fotógrafo americano Gregg Segal, foi produzido em 2014
O fotógrafo e artista visual americano Gregg Segal é responsável por diversas coletâneas que trazem, por meio de personagens fotografados do alto em cenários temáticos, temas emergenciais que provocam a audiência por meio da experiência estética.
O projeto “Seven Days of Garbage”, ou “Sete Dias de Lixo”, não é diferente. Produzido em 2014, ele convida amigos, vizinhos, parentes que foram convencidos a guardar o lixo por uma semana. As imagens são usadas até hoje quando se debate a cultura do consumo e a nossa relação irresponsável com o desperdício.
Para cada grupo, ele construiu um cenário próprio para que os modelos se deitassem sobre o próprio lixo acumulado.
“Eles se deitavam nele e eram fotografados para que você pudesse ver o lixo deles com muita clareza. Nós nos tornamos tão imunes aos produtos que consumimos que parecia algo que eu precisava fazer”, disse o fotógrafo em entrevista a Justin Herfst para a LensCulture.
“A ideia era tornar o problema do consumo e do desperdício difícil de ignorar, personalizando-o. E fotografo minha própria família também, porque não queria parecer que estou apontando o dedo para todos os outros. Penso no consumidor como vítima e agressor; somos vítimas de todo o sistema de forma que também estamos contribuindo para esse mesmo problema”.
Com as imagens, Gregg procura chamar a atenção para nossa contribuição individual a um problema global. Nosso lixo, colocado em sacos e levado para a calçada, é recolhido pela gestão de resíduos e enviado para se juntar aos outros 2,12 bilhões de toneladas de resíduos globais anuais. Visíveis para o consumidor por apenas um momento, os efeitos do lixo permanecem potencialmente por milhares de anos.
Esse lixo que descartamos se acumula em aterros sanitários, polui os cursos d’água e custa danos incalculáveis ao planeta. A relação que cada modelo teve com seus próprios resíduos para o ensaio fotográfico já era algo interessante por si só. “Muitas pessoas apareceriam sem o lixo bagunçado, fedorento e apodrecido. Eles não queriam lidar com isso. Um cara realmente lavou seu lixo antes de trazê-lo”.
E se a intenção era provocar a audiência, o assunto rendeu. Gregg conta a diferença da recepção do projeto nos Estados Unidos e em países da Europa. “Nos Estados Unidos, essa profunda tensão do liberalismo não quer que lhe digam o que eles devem fazer e, portanto, esse projeto cheira a vergonha, o que afasta muitas pessoas, causa uma espécie de aversão a isso”, contou. “Na Europa, foi adotado e publicado em muitas revistas, onde havia um senso de responsabilidade compartilhado, ‘estamos nisso juntos’, esse tipo de coisa”.
“7 Days of Garbage” foi finalista do Home International Photography Prize 2021 da LensCulture. Clique aqui para ler a entrevista completa.