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Texto: Julieta Waiselfisz / tradutora de Télam | Fotos: Diego Waiselfisz

Com suas bocas e olhos tapados com vendas pretas, jornalistas, trabalhadores da imprensa, líderes sindicais e representantes de grupos políticos da oposição marcharam nesta quinta-feira (5), em Buenos Aires, contra a demissão de 357 trabalhadores da agência de notícias do Estado Argentino, Télam. No total, a demissão massiva representa 40% do quadro de trabalhadores da Télam.
O conflito começou no dia 26 de junho e continuou durante os dias subsequentes. Centenas de Jornalistas, fotógrafos, infografistas, editores, tradutores, trabalhadores administrativos e de publicidade foram demitidos. Entre as demissões há 48 correspondentes da agência de notícias que trabalham no interior da argentina (sobre um total de 98 correspondentes que a agência possui no nível nacional).

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O governo de Mauricio Macri, a través do secretário de Meios e Conteúdos Públicos, Hernán Lombardi, justificou a medida referindo a uma reestruturação da agência de notícias, e denunciou o suposto uso político pelo governo anterior, durante a presidência de Cristina Kirchner, dizendo que com esta medida “hoje o jornalismo e os cidadãos estão vencendo”. Os demitidos tomaram as declarações como uma provocação, não somente porque entre eles há trabalhadores como mais de 20 e 30 anos de serviço, mas também porque consideram falso o argumento de que na Télam “sobra gente”, como estão afirmando as autoridades.

Os trabalhadores referem que não tem gente que sobra, afirmando: “até somos poucos para todos os serviços que a agência acrescentou. O secretário de meios, Lombardi, pode perguntar por qualquer um dos demitidos e nós podemos dizer as funções dessa pessoa”.

Ao mesmo tempo, afirmam que estão esvaziando e sucateando o sistema de meios públicos. Entre 2016 e 2017 mais de 3.000 jornalistas foram demitidos, segundo dados do Sindicato da Imprensa de Buenos Aires (Sipreba) e do Sindicato de Trabalhadores da Imprensa (Sitrapren). A maioria das demissões foi no setor privado, e os casos mais emblemáticos foram a liquidação da Agência DyN em 2017, e a do jornal Buenos Aires Herald (fundado em 1876) que deixou de ser editado em 2017. Também, na semana passada, 50 trabalhadores da privada Radio del Plata foram demitidos e, entre os meios do Estado Nacional, além da Télam, houve demissões em Rádio Nacional e na TV pública.

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Em resposta, os trabalhadores da Agência Télam mantêm ocupadas as duas sedes, pois as autoridades abandonaram a agência quando ocorreram as demissões, e não compareceram até hoje para atender a situação. Os trabalhadores da imprensa não encontram respostas em nenhum funcionário, nem nas autoridades do comando superior do Estado Nacional, nem nos funcionários com responsabilidade do comando médio que trabalhavam como chefes na agência, e que foram nomeados quando o governo do Presidente Macri tomou posse em 2015. “Por medidas sindicais, o serviço se encontra temporariamente limitado”, lê-se ao abrir o site da Telam, que ficou congelado antes da partida que classificou a Argentina para as oitavas de final da Copa do Mundo da Rússia.

Por sua vez, os trabalhadores apresentaram um recurso na justiça para retroagir a situação, esperando esclarecimento sobre a situação dos trabalhadores, e alegando que nas demissões massivas a lei trabalhista obriga que as empresas abram um procedimento preventivo de crise, o qual não foi feito até agora pela diretoria da agência.

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