Zé Roberto e Bernardinho: A experiência olímpica dos treinadores de vôlei
Com tantas histórias e tantos títulos, Bernardo Rezende e José Roberto Guimarães dirigem mais uma vez as seleções brasileiras de voleibol em uma edição de Jogos Olímpicos.
Por: Rafael Lisboa
Nove de José Roberto Guimarães e oito de Bernardo Rezende. Esses números são a quantidade de participações de ambos nas Olimpíadas. Com experiências nas seleções de ambos os gêneros, os dois treinadores estão indo para a sexta edição de Jogos Olímpicos juntos, em contextos diferentes, mas com muitas medalhas no peito.
Zé Roberto Guimarães, como é mais conhecido, iniciou sua carreira no voleibol mais cedo, em 1967, no Randi Esporte Clube, em Santo André, São Paulo. Aos 22 anos, ainda defendendo seu primeiro clube, Zé foi para as Olimpíadas de Montreal, em 1976, sendo essa, a sua única participação como jogador. Ainda sem uma cultura nacional do vôlei, o Brasil obteve um amargo 7º lugar como resultado, sendo eliminado na primeira fase.
A segunda oportunidade de Zé veio em 1992, quando já havia se aposentado e tinha passagens por clubes do estado de São Paulo como treinador. E logo a glória veio, pois a seleção de Tande, Gávio e Marcelo Negrão conquistou o primeiro ouro olímpico na modalidade, após bater a Holanda na grande final. Zé seguiu no cargo e foi mantido para 1996, mas o desempenho em Atlanta foi abaixo e o treinador saiu do cargo após a eliminação para a Iugoslávia nas quartas de finais.
Chamado para a seleção feminina em 2003, Zé aceitou o convite e está até hoje na seleção. Com uma dor no ano seguinte em Atenas, por conta de uma eliminação nas semifinais contra a Rússia por 3 sets a 2 nas semifinais – o Brasil perdeu o decisivo terceiro set após ter cinco pontos de vantagem -, o treinador foi para 2008 querendo vencer mais do que nunca e “acabar com o fantasma” de 2004. Para as atletas, ele dizia que uma parte dele ficou em Atenas e gostaria de recuperá-la em Pequim. Dito e feito, em 2008, o Brasil conquistou seu primeiro ouro olímpico no vôlei feminino com uma das melhores campanhas da história.
Campeã na Ásia, o Brasil teve um difícil ciclo para as Olimpíadas de 2012. Colecionando derrotas em competições internacionais para seleções de diferentes níveis, a classificação veio apenas no final de 2011, com o Brasil vencendo no Sul Americano, o que não vinha sendo necessário nos últimos anos. Para Londres, cortes bruscos de jogadoras, inclusive Mari, campeã olímpica em 2008, e problemas entre comissão técnica e atletas. Apontado pela distância entre as partes, a seleção faz uma fase de grupos aquém do esperado, dependendo dos Estados Unidos para se classificar. Grupo conversado, a situação melhora e o Brasil volta a mostrar superioridade na vitória contra a Sérvia por 3 sets a 0, no grande jogo contra a Rússia por 3 sets a 2 e na conquista de mais um ouro, contra os EUA na final.
Com gerações diferentes, o Brasil fez duas grandes fases de grupo em 2016 e 2021, porém a queda por 3 sets a 2 contra a China nas quartas de final no Rio e a derrota por 3 sets a 0 em Tóquio tirou a seleção de continuar no lugar mais alto do pódio, sendo a volta, o principal objetivo de Zé e jogadoras para 2024.
Foto do Zé pensando:
De outro lado, com pontos de carreira semelhantes, Bernardinho também disputou sua primeira Olimpíada como jogador, em 1984, na era da “Geração de Prata” em Los Angeles, jogando como levantador. Após uma curta carreira dentro de quadra, Bernardinho logo assumiu posto na comissão técnica de Bebeto de Freitas, treinador da seleção masculina dos anos 80.
Após as primeiras experiências como treinador principal na Itália, Bernardo foi chamado para treinar a seleção brasileira feminina no Grand Prix de 1994. Em sua primeira edição de Jogos Olímpicos, Bernardinho e a seleção que tinha Márcia Fu, Fernanda Venturini e Ana Moser, garantiram a medalha de bronze para a seleção. Com um gosto de quero mais pela derrota, e muito discutida, para Cuba, o trabalho seguiu para Sydney em 2000 com uma diferente geração, mas, que também conquistou o bronze.
No ano seguinte, Bernardinho permaneceria como treinador da seleção brasileira de voleibol, porém no masculino, momento que se inicia uma das maiores histórias vencedores entre treinador em seleção, pois na sua primeira olimpíada no novo cargo, o time com Giba, Nalbert, Dante e Serginho, logo subiu ao lugar mais alto do pódio, depois de um ciclo extremamente dominante e vencedor no vôlei intercontinental e mundial.
Nas Olimpíadas subsequentes, Pequim 2008 e Londres 2012, Bernardinho contou com o filho em quadra, sendo alvo de críticas desde a primeira convocação de Bruninho, mas a dupla funcionou e o Brasil repetiu grandes atuações em vários torneios. Entretanto, o ouro deu lugar à prata em ambos os eventos, após derrota para EUA e Rússia nas finais.
Em 2016, com Bruninho capitão, a seleção masculina passou por muitas dificuldades para se classificar e avançou apenas na quarta colocação, vencendo a França em jogo decisivo, na última rodada. Assim como a feminina de Zé em 2012, o ponto de virada foi no momento crucial, pois a partir desse jogo, o Brasil cresceu e nas mãos de Wallace, Lucão e Lucarelli, a seleção pôde subir novamente e receber a medalha de ouro.
Após isso, Bernardinho saiu do posto de treinador da seleção em 2017, para dar lugar a Renan Dal Zotto, que chegou a assumir a seleção francesa por um curto período e no final do ano passado, aceitou o convite para voltar ao cargo de técnico para as Olimpíadas de 2024.
Se encontrando nos mesmos postos pela primeira vez desde Rio 2016, os treinadores chegam em momentos diferentes. Enquanto o feminino configura na liderança do ranking da Federação Internacional de Voleibol, o masculino vem de campanhas complicadas na Liga das Nações e perdeu a superioridade, com o crescimento da Argentina, no vôlei sul-americano. Mas Zé Ricardo, único treinador a vencer o ouro olímpico no vôlei masculino e feminino e Bernardinho, treinador que nunca saiu de uma Olimpíada sem medalha no peito, sabem bem como tirar o melhor das suas seleções.