O segundo disco do cantor, compositor e produtor musical Zé Nigro, rompe a solitude do seu último trabalho ao trazer novas colaborações, como Arthur Verocai, Russo Passapusso, Souto MC e Saulo Duarte

“Este álbum é como uma dobra do tempo”. Guiado por esta percepção, Zé Nigro lapidou seu novo disco de estúdio, intitulado Silêncio, que traz releituras de faixas lançadas anteriormente no disco Apocalip Se – trabalho com o qual debutou sua carreira autoral em 2021. O novo disco do cantor, compositor e produtor musical paulistano tem uma intrínseca relação com as temáticas abordadas no primeiro álbum, que são agora somadas a novas perspectivas artísticas a partir das colaborações com Arthur Verocai, Russo Passapusso, Fernanda Broggi, Saulo Duarte e Souto MC. Transitando por diversos ritmos, o disco chega pelo selo estadunidense Nublu Records hoje (17), como um ponto de continuidade e renovação com nove canções.

Silêncio traz um contraste em comparação à densidade sonora apresentada em Apocalip Se. “Enquanto meu primeiro disco carregava uma necessidade de transformação pessoal – consequência do isolamento de 2020 –, este novo projeto propõe uma conexão com as participações que trazem outras personalidades para o trabalho, assim como uma ligação mais profunda com a natureza”, resume Nigro. O primeiro single a apresentar o álbum trouxe uma versão orquestral de Gorjeios em colaboração com o maestro Arthur Verocai. O resultado da parceria inspirou Zé Nigro a revisitar outras músicas de sua discografia – recriadas a partir de apresentações ao vivo – e uni-las a canções inéditas, formando este novo disco.

O fator colaborativo foi um dos pontos cruciais do projeto. Verocai, Russo Passapusso, Fernanda Broggi, Souto MC, Saulo Duarte, Samuel Fraga e Dustan Gallas trouxeram elementos que levaram as faixas a novos patamares. “Verocai leva ‘Gorjeios’ para um plano celestial, poético. Já Russo Passapusso traz uma carga emocional intensa para ‘Nem um Pio’, enquanto Souto MC deposita sua energia única em ‘Andarilha das Galáxias’, com um flow e escrita particulares”, destaca Zé. “Na inédita ‘Trincheira’, Saulo Duarte traz seu canto paraense para esta faixa que é mais sensorial, e que fala da constante busca por soluções para as aflições da vida. Por fim, Fernanda Broggi soma na releitura de ‘Calor’, fruto dos nossos encontros na época em que eu fazia os shows de lançamento do primeiro álbum”, completa.

Toda a construção do disco passou pelo olhar atento de Zé Nigro, que na produção musical experimentou com sonoridades variadas, indo da música brasileira dos anos 70 ao afrobeat e ao reggae desconstruído. “Gosto muito dessa diversidade estética que o álbum traz, percebo dois momentos nele: um lado dia (A) e um lado noite (B)”, explica. “Como produtor musical sou influenciado por muitos tipos de música, não tenho preconceitos estéticos, o que me permite transitar por vários estilos ao mesmo tempo. Então o álbum passeia por todas as sonoridades em que acredito”, continua.

O disco começa com os arranjos de cordas de Arthur Verocai e termina com o remix de Jararaca Snake – parceria com o produtor e baterista Samuel Fraga –, seguido da vinheta Silêncio. A faixa Caossonância reflete a beleza em oposição à destruição da natureza, ilustrada pela sobreposição de sintetizadores que gradualmente cobrem a orquestra sampleada do álbum “Memória das Águas” (1981), de Fernando Falcão. Já Reaction, releitura da canção homônima de Bob Marley, é inspirada pelos conceitos de ação e reação.

De forma envolvente e progressiva, de canção em canção, o álbum ganha uma nova dimensão por meio das participações e dos arranjos. Silêncio, além de revisitar o passado de Zé Nigro, projeta seu olhar para novas possibilidades, com colaborações que ampliam o alcance e a profundidade de sua obra. “O projeto é como uma dobra do tempo espaço, de um tempo que ficou parado para o dinamismo da vida em sociedade”, finaliza.